Sim, eles são jovens e “rebeldes”. Yes,
eles param em um posto antes de seguir viagem. Oui, avisam a eles que devem evitar
o atalho e, evidentemente, eles não obedecem. Sí, o carro quebra. Ja, eles
estão prestes a ser massacrados. 是, você já
deve ter visto varios filmes assim, mas o que você acha de acrescentarmos vários
zumbis exóticos - um guitarrista, uma gostosa simpática que perde a pele
do rosto, uma expert em massagem oriental e um açougueiro que no meio disso tentam filmar um porn?
Não, não usamos drogas. Esse filme
realmente existe e ele esta aqui no Café com Tripas. A resenha de hoje é do
filme “Trailer Park of Terror”, uma obra que mescla velhos clichês, elementos
inusitadas e uma pitada de critica à indiferença moral (fica nossas duvidas se
essas criticas foram intencionais ou não).
Título
original: Trailer
park of terror
Lançamento: 2008 (EUA)
Duração: 91 minutos
Direção: Steven Goldmann
Lançamento: 2008 (EUA)
Duração: 91 minutos
Direção: Steven Goldmann
Trailer park terror
Massacrando uma boa idéia
Sabe aquele filme que parece bom no anúncio,
mas que quando assistido é só razoável? Pois é, “Trailer park” tem qualquer
coisa disso. Ele é construído sobre uma idéia excelente e durante uns vinte
minutos te convence de que é ótimo, mas passado isso, abre mão de aprofundar os
temas que suscita para aderir à violência sem sentido, nos deixando
decepcionados e sem respostas. Daí por diante só seguem banalidades: cabeças
arrancadas, minas explosivas, gordas assassinas, enfim, todos os elementos familiares do trash.
A morte espreita
O filme narra à história de um grupo de
jovens infratores que viaja em busca de reabilitação. Após um acidente, eles
procuram abrigo num antigo parque de trailers onde, anos antes, havia ocorrido
um massacre que aparentemente está prestes a se repetir.
Fantasmas se divertem
Trailer park se constrói a partir da
relação desses jovens inconseqüentes com o mundo velho e violento que descobrem.
E o que produziu esse mundo? O seguinte: Norma, uma prostituta cansada de ter
sua vida barrada pelas pessoas ao redor, decide, após um incidente, matar todos
os que a atrapalharam com balas de grosso calibre, fósforo e gás butano, criando
assim o lugarzinho assombrado onde ocorre o filme. A partir disso, temos duas
vertentes distintas na história: aquela que mostra a mocidade perdida que chegou
ao parque e está prestes a ser trucidada e, além dela, a que exibe os
resultados do massacre ocorrido anteriormente, na forma de mortos-vivos atormentados
querendo brincar. Obviamente, há um ponto em que ambas confluem num espumoso
banho de sangue com sabonete de banha e xampu de vísceras, porém, esse é o
aspecto menos interessante do filme. Ignorem, pois, as manchas no tapete, a
saliência estranha na terra do jardim ou o cão que desapareceu, pois pouco
disso importa dada uma simples razão: na história do cinema, relatar a história
de uma juventude tola que lida com forças desconhecidas e vai sofrendo
terríveis conseqüências é um clichê jurássico. Já vimos isso muitas e muitas
vezes em pânico no verão passado. Sacou?
Quanto aos jovens há algo interessante de
apontar. Se de um lado temos um mundo injusto e impiedoso, de outro temos essa
juventude desajustada e inconsequente que, sem conseguir descobrir como se
inserir nesse mundo sem ceder aos ditames dele, transgride as regras
estabelecidas, porém não por rebeldia, mas porque se sujeitar à mediocridade da
sociedade como está lhe parece mais terrível do que viver à margem dela. Entrar
no mundo significa ou tolerar o mau que há nele ou fazer parte desse mesmo mau.
Nesse ponto, quando há tentativas de cooptar a moçada para o time dos
conformados (o pastor que comanda a viajem e tenta reabilitá-los), elas soam
patéticas e desesperadas, como quem busca, ao convencer o outro, convencer a si
da própria verdade que sustenta.
De que serve a fé num mundo em que não há
espaço para o bem e esperança? Para que nos sintamos diferentes de algum modo
daqueles que fazem coisas de que não somos moralmente capazes? Para nos
conformar na mediocridade da vida? Talvez nenhuma dessas coisas, talvez um pouco de cada uma delas.
*
Para além dos elementos gore e trash
do filme, existe um pequeno questionamento a respeito da responsabilidade que
temos uns com os outros, mostrado na relação entre Norma e os habitantes do
parque. Contextualizando o que digo, lembremos o que disse certa vez Ian
Kershaw, um dos maiores historiadores da Segunda Guerra: “A estrada para Auschwitz
foi construída com ódio, mas pavimentada pela indiferença”, ou seja, o que
levou o nazismo a produzir o Holocausto não foi somente uma atitude de ódio
contra os judeus e outros povos discriminados, mas também de indiferença dos
alemães uns com os outros, permitindo que o nazismo ganhasse força e se
tornasse incontrolável. Já quanto a “Trailer park”, ele segue em parte por esse
caminho, nos lembrando de que a apatia e a indiferença são tão poderosas quanto
o próprio mau, pois permitem que ele seja instaurado e tolerado. Quando vemos
Norma tendo seus sonhos destroçados e se tornando um monstro, nos perguntamos sobre
quem é o verdadeiro responsável pelo que ela fez e se transformou. Afinal, se
uma pessoa nunca teve chance de fugir ao que lhe foi imposto, ela é mesmo
responsável por seus atos?
Se com “O pequeno príncipe” aprendemos que somos responsáveis por quem
cativamos, com “Trailer park” é justamente o contrário: até que ponto nós
devemos nos responsabilizar por quem odiamos ou, até mesmo, por quem ignoramos? Somos culpados pelos suicidas? Por
ataques contra nordestinos? Pelos depressivos? Pobres?
Se sua resposta for não, leitor, talvez
você precise assistir “Trailer park”.
O filme carrega a virtude de ser curto, o
que impede que venha a ser pior do que poderia. Não é que seja péssimo, mas por
desvirtuar sua idéia original para recair nos velhos massacres tão conhecidos
por nós, fãs do trash, acaba se banalizando e virando mais um filme cheio de
violência e pouco conteúdo. A obra é bem voltada para o gore - uma pele
arrancada aqui, um canibalismo ali - mas nada muito extremo.
No entanto, o que é digno de menção como
um trunfo do filme, é a trilha sonora, muito bem colocada e escolhida; composta
por rock pesado pra agitar nosso espírito e fazer com que as machadadas pareçam
ainda melhores.
O filme me merece?
Não. Se quiser questionamentos leia Kershaw,
se quiser melancolia leia Saint-Exupéry e se quiser diversão, leia Café com
Tripas. Simples assim.
Trailer:
Adorei! Amo filmes de zumbis!
ResponderExcluirAh, valeu que tenha gostado. Deu um trabalhão escrever esse texto, pelo que lembro. Sinta-se em casa para sugerir, criticar e comentar. Um abraço.
ResponderExcluirDe tão ruim ficou legal
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