quinta-feira, 7 de junho de 2012

Resenha: A volta dos mortos vivos I e II (The return of the living dead)


            Uma coisa é certa: não importa quantas novidades o terror possa trazer, ele sempre retornará as suas origens. Tanto faz quantos novos seres surjam para nos assustar - pokemons, digimons, onis - pois sempre retomaremos àqueles que o tempo matou, mas nunca esqueceu, os clássicos. É por isso que hoje o Café traz o célebre “A volta dos mortos vivos”.
Para quem desconhece, a franquia despontou nos anos oitenta com vários filmes de qualidade duvidosa e humor garantido, compondo atualmente a lista dos mais cultuados dentro do gênero.
Esta resenha abordará os dois primeiros filmes da franquia, pois dado seu tamanho (cinco filmes ao todo), optamos por dar um tratamento mais coletivo e menos específico a ela, abordando as obras em duas postagens apenas e não em cinco. Os três filmes seguintes estão aqui.





Título original: The return of the living dead
Lançamento: 1985 (EUA)
Duração: 91 minutos
Direção: Dan O’Bannon





A volta dos mortos vivos
Poucas ideias, pouca grana e muito sangue

Inspirado diretamente no primeiro longa-metragem de George Romero “A noite dos mortos vivos”, “A volta” é, diferentemente de seu inspirador, puro trash: um roteiro ruim a ponto não identificarmos quem é o protagonista, atuações tão fracas que o telespectador torce para que os mocinhos morram dolorosamente e, por fim, personagens tão escrotos que nem nos prestamos a decorar seus nomes. A película, no entanto, deu origem a uma franquia de caça-níqueis sangrentos que ajudaram a popularizar o gênero dos “filmes de zumbi”, além de fazer parte da infância de muita gente, o que faz com que mereça respeito.

Qualé que é?


A história é simples: um experimento biológico do exército é perdido e acaba por espalhar um gás tóxico num cemitério, fazendo com que os mortos dali voltem à vida, matando pessoas e gerando novas mortes. Durante a confusão, um grupo tenta sobreviver se isolando nos locais que encontra e enfrentando mortos vivos.

Há salvação?

No geral trata-se de (mais) um filme que se apropria dos clichês do terror-horror para tentar contornar sua própria precariedade. Artisticamente há pouco ou nada que se relevar. Apesar de surrupiar o nome do mais importante filme do gênero, “O retorno” é antes um produto de consumo que uma obra de arte. Caso o olhemos por essa ótica notaremos que ele foi um dos primeiros a inserir traços de humor no terror, através de zumbis esquisitos, piadinhas infames e personagens exóticos. Com efeito, se “O monstro do armário” repetiria o mesmo mais tarde, se permitindo rir dos próprios clichês os quais o sustentavam, isso sucedeu principalmente porque as portas para o humor negro já tinham sido abertas pelos zumbis bizarros e jovens inconsequentes de “A volta”. Nesse ponto o filme se salva de apenas afundar na imensidão da outras histórias banais acerca de sobrevivência, juventude e zumbis.

Três destaques

Há três aspectos bem interessantes no filme que devemos ressaltar. São eles:
Presuntos atípicos: ao contrário dos filmes habituais do gênero, “A volta” não é propriamente um filme de zumbis, mas de mortos-vivos. Primeiramente, como já estão mortos os cadáveres só podem ser destruídos caso seus corpos sejam completamente cremados. Além disso, eles matam não por um instinto insaciável, mas porque apodrecem de modo irredutível, o que lhes causa uma dor excruciante. Com isso, sentem a todo o tempo o pesar de estarem mortos, sendo que a única coisa que pode aliviar esse sofrimento é devorar cérebros vivos. Eis um aspecto criativo e original do filme.
Gente feia e mal-encarada: apesar dos personagens em geral não produzirem qualquer empatia com o telespectador, temos que reconhecer que são bastante incomuns: um punk cheio de correntes, um homem responsável por um crematório, uma punk de cabelo rosa que anda nua durante todo o filme e assim por diante.
Guitarradas nervosas: a trilha sonora é bacana e não deixa dúvidas que o rock é o melhor som para se ouvir num apocalipse zumbi.

Devo retomar os mortos?

Por interesse histórico ou tédio no fim da tarde, sim. Contudo, se você não for um fã ardoroso de trash ou de “zumbis”, lembre-se que há filmes melhores por aí.

Trailer:





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Título original: Return of the living dead part II
Lançamento: 1988 (EUA)
Duração: 89 minutos
Direção: Ken Wiederhorn





A volta dos mortos vivos II
Os mesmos mortos,  vivos e vícios

Embora emule a história do antecessor de modo tão escancarado que chega a provocar risos, “A volta II” é tecnicamente bastante superior a ele, tendo protagonistas bem definidos, um roteiro razoavelmente consistente e cenas de humor menos forçadas, o que, contudo, não o torna um bom filme.

Como é a coisa?


Nessa continuação a história se repete: um experimento biológico do exército é perdido (de novo) e acaba por espalhar um gás tóxico num (outro) cemitério, fazendo com que os mortos dali voltem à vida, matando pessoas e gerando novas mortes (mais uma vez). Durante a confusão, um grupo tenta sobreviver se isolando nos locais que encontra e enfrentando mortos-vivos (exatamente como no filme anterior).

O que sobreviveu de bom?

Seguindo a trilha iniciada pelo filme anterior, “A volta II” também não é uma obra de arte. Por isso, deve ser assistido com um balde de pipoca à mão e um espírito descontração (e de boa vontade) para que surta o efeito. Ignorados os problemas de uma história sem grandes virtudes, podemos nos divertir acompanhando os pequenos trunfos da trama, sorrindo aqui e ali sem engasgar com o refri no meio de uma gargalhada. Conquanto o início seja um tanto enfadonho e contrário ao clima geral do filme, superado isso a trama se torna mais divertida e dinâmica.
Além disso, vale dizer que trilha sonora continua ótima, uma das qualidades da franquia até aqui. Rock’n roll para dar um clima.

Detalhes interessantes:

Mostrando uma tendência da franquia a decair, há somente dois detalhes interessantes a se ressaltar.
Primeiramente, em determinada cena os personagens vão até a casa da avó e descobrem que a velha não está. Vasculhando o local em busca de algo útil, eles decidem ir até o arsenal da vovó se munir com pistolas e escopetas.
Finalmente, perto do fim do filme assistimos a duas homenagens: a primeira aos Goonies na forma de um zumbi Sloth muito bacana. Já a segunda celebra certo cantor pop, materializado na forma de um zumbi dançante vestido em vermelho. Pela pele não lembro se era negro ou branco, mas tanto faz: está morto mesmo.

Devo retomar (novamente) os mortos?

“A volta II” não é um filme profundo, nem tem qualquer fundo crítico por detrás, sendo puro entretenimento para fins de tarde monótonos.  Ele consegue apresentar alguns avanços técnicos em relação ao primeiro filme, mas não chega a elevar a franquia a um patamar aceitável para fazer seus fãs felizes.
Não é de todo ruim também, pois não tem grandes problemas na sua estrutura, apenas não é bom. Assisti-lo é mais ou menos como comer pipoca de ontem. Se quiser experimentar, experimente, mas já sabe que não é muito gostoso.

Trailer:

  


2 comentários:

  1. Embora, como o texto bem ressalta, os dois primeiros filmes (não assisti os outros) não sejam NADA comparáveis a filmes de arte, são sem sombra de dúvida uma forma mais digerível de assistir um filme trash. Verdadeiras comédias de humor negro. A referência ao clip Thriller de Michael Jackson no segundo filme, inclusive, é bem mais engraçada se ele for assistido hoje em dia.

    Mas além disso, eles têm o mérito de ter criado duas formas inusitadas (e que perdurariam em outras obras relacionadas) de caracterizar os mortos vivos:

    - Cérebros: Apesar dos clássicos de George Romero terem criado os mortos vivos como os conhecemos, foi em A Volta do Mortos Vivos que se definiu que eles têm uma predileção absurda por comer cérebros. E muitos filmes e piadas caíram no senso comum por causa disso, desde então. Nunca esquecerei o episódio dos Simpsons no qual um morto vivo persegue Homer, mas desiste ao perceber que ele não tem exatamente um cérebro pra ser devorado.

    - Inteligência: Os mortos vivos desta franquia não apenas regressaram; eles mantiveram a capacidade de pensar e se comunicar. Muitas das piadas vêm daí. E por serem os primeiros a terem essa característica, acabaram influenciando muitos outros derivados, como a série Marvel Zombies na qual os heróis e etc. são afetados pelo mesmo mal.

    Vale sempre a pena assistir aos dois, acompanhado de amigos e muita cerveja.

    Grande abraço, adorei a postagem. 8)

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  2. Hum... Eu não tinha considerado essas coisas, principalmente essa do cérebro, que é bem clara.

    Agora essa parte da inteligência é muito interessante e é uma pena que os filmes não explorem tão bem quanto poderiam. Acho genial no primeiro filme quando a morta diz que mata porque sente uma dor imensa e só devorando os outros é que conseguiria suportar isso. É como se ser um morto não fosse uma doença, mas uma condição. Muitas coisas poderiam ter sido tiradas daí e o terceiro e o quarto filme até tentam dar um tratamento sério a coisa, mas vão desfigurando a série. Uma pena.

    Vou ver até se mais tarde acrescento mais umas informações nessa resenha. Valeu, pensador!

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