sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Resenha: O vingador tóxico parte II (The toxic avenger part II)


Olha, eu tenho que dizer que o mais engraçado de se ver um filme americano no qual um herói nacional combate uma invasão econômica estrangeira é que a mensagem é tão óbvia, mas tão óbvia, que até parece inédita.
Se você ainda não viu “O vingador tóxico” e ainda está acostumado com esses heróis mariquinhas como Wayne e Kent, que defendem o sistema com métodos bobinhos de luta e apenas mandam os facínoras para a cadeia; se prepare para conhecer Melvin, o terror da bandidagem e, agora, também do capitalismo!





Título original: The toxic avenger part II
Lançamento: 1989 (EUA)
Duração: 84 minutos
Direção: Joe Ritter e Lloyd Kaufman







O vingador tóxico parte II
Porque o sonho só pode ser americano

Contrariando seu progenitor, “O vingador tóxico parte II” não é um filme inteligente que, ao seu modo tosco, é também surpreendentemente engraçado. Na verdade, ele se apropria dos elementos que deram certo na obra anterior e os repete de modo artificial e forçado, ficando mais embaraçoso que interessante. Embora haja alguns momentos e ideias interessantes, não vem a ser um filme que justifique a própria existência, tampouco que faça justiça ao nome que carrega.
Seja como for, má qualidade nunca impediu o Café antes. Vamos lá.

Vingador boladão

Depois de salvar Tromaville do crime Melvin vive feliz com sua namorada, realizando trabalhos num centro de ajuda aos cegos. Porém, tudo muda quando o lugar é atacado por capangas de uma organização que pretende invadir e conquistar a cidade. Eles assassinam várias pessoas antes que sejam detidos; o que faz com que Melvin adentre numa profunda depressão, partindo numa viajem em busca de suas origens para vencer essa tristeza.

Apocalypse Inc.


A história se passa em duas frentes: aquela principal, na qual o vingador viaja ao Japão em busca de seu pai e, além dela, uma secundária, em que vemos que, na ausência de Melvin, a mesma organização que atacou o centro de ajuda aos cegos conquistando Tromaville.
Infelizmente, embora o filme use ideias bem interessantes como motivação para a história, o desenvolvimento dado a elas é quase sempre decepcionante. Um exemplo bem simples disso é como, na ausência de Melvin, as empresas “Apocalypse Inc.” tentam dominar a cidade. Se você pensou em Coca-cola, Apple, BMW ou qualquer empresa que aja pela conquista através da cultura, errou, pois no mundo de “O vingador tóxico” as megacorporações entram nas cidades com modos bem mais sórdidos: despejando lixo tóxico, com fortões armados até os dentes, metralhando velhinhas cadeirantes cegas e mutilando pessoas. Não que isso seja assim tão raro no mundo real, mas é caro, ineficiente e pior: pega mal. Para qualquer empresa com fins lucrativos a maneira como é percebida por seus possíveis clientes é vital. Com isso, melhor que dobrar um povo pela força é conquistar sua alma a fazer com que ele acredite que as bandeiras que defende são mesmo suas e se submeta por “vontade própria”. Basta olhar nossa cultura e ver o quanto amamos produtos como símbolos de status social. Nesse aspecto, o filme deixa bastante a desejar, tudo é muito óbvio como se as mesmas relações as quais o filme tenta satirizar também o fossem.

Inclusive, mesmo no momento em a história muda de rumo e Melvin tem a possibilidade de expulsar as organizações de Tromaville, tudo se dá de maneira muito simples, como se pudéssemos simplesmente deixar de consumir coca-cola ou como a juventude não amasse seus colonizadores como heróis, de sorte que bastaria retirar esses produtos, signos e aparatos para que viéssemos a esquecê-los. Como nossos índios bem sabem, mesmo que Melvin expulse o estrangeiro de seu lar, os hábitos e o apego aos valores existentes antes da invasão estrangeira é algo que jamais volta. Por sinal, no mesmo oriente que tenta invadir os EUA no filme (e o mundo hoje) centenas de mulheres realizam atualmente cirurgias plásticas para apagar seus traços nativos e se tornarem mais ocidentalizadas. E não há vingador que nos salve disso.
Obviamente, trata-se de uma grande ironia, afinal, os EUA são um dos grandes responsáveis por invasões estrangeiras por meio da cultura. Colocá-lo como uma vítima daquilo que pratica é algo que só um filme nacionalista bobo ou um trash fodão faria. O fato de que a execução da obra não é boa não elimina o mérito de sua tentativa e crítica ao protecionismo americano, como se os métodos que usassem contra os outros se tornassem injustos só no instante em que podem ser copiados e usados contra si.
Eu poderia continuar e usar esse filme como pretexto para atacar a globalização, mas acho que já fazemos bastante isso por aqui, então, mudemos de assunto.

O sol se põe e você não pode impedir

Boa parte do filme se passa no Japão, onde Melvin conhece novos amigos, inimigos e, ao fim, aprende lições que o ajudam a vencer sua tristeza. A esse respeito é curioso que, embora haja piadas sobre o país (e tudo o mais que o gênero comporta), ele não é pintado de maneira estereotípica, o que seria bastante esperado vindo de um filme que “discute” justamente a invasão estrangeira pela economia a partir do lado de quem a sofre. A bem dizer, é Tromaville e não Tókio que parece irreal e caricata. Eis uma ironia bem sutil e, provavelmente, inconsciente, do filme. É como se a obra nos mostrasse o rumo imutável da história - o econômico, aquele em que vence o capital - e revelasse que nossas tentativas de criar um mundo diferente como sendo algo fantasioso, que só daria certo num filme tão maluco como o do "Vingador". Se Tromaville pode ser salva, Tokio não.

Devo clamar pelo Vingador?


O filme tem um monte de cenas de nudez (poucas de sexo), muitas sequências de lutas bobas nas quais ficamos esperando que acabem para que venham, enfim, as cenas interessantes. E infelizmente, quando essas ocorrem, são estendidas ao extremo e acabam cansando. Mas e a trilha sonora? Bom, é ignorável. Quanto aos efeitos e ao roteiro, há até um momento em que as cenas do primeiro filme são reaproveitadas para explicar o que aconteceu anteriormente, de maneira que o telespectador que não tenha visto o anterior possa acompanhar o filme sem problemas. No geral é tudo muito ruim, embora haja, obviamente, alguns bons momentos, como aquele em que o bandido se arma com uma metralhadora e mata uma... Veja o filme, não vou dizer!
Se você é fã do Vingador talvez queira vê-lo, mesmo que seja como introdução aos próximos. Os elementos clássicos estão lá: olhadelas para câmara, personagens caricaturais, um tema enfeitando o fundo da história e mortes engraçadas. Se não for, não se sinta compelido a procurá-lo, vá atrás do primeiro e ria muito.

Trailer

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