sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Resenha: Psychomania


            Hoje temos um filme que foge da poesia. Deixemos o papel e a caneta de lado e vamos pegar nossas jaquetas de couro, nossas possantes e sair pela cidade levando caos e anarquia. motoqueiros anarquistas mortos-vivos é o que tem pra hoje, pois, apesar de pagarmos de cult e adoradores de poesia e arte, na verdade somos Psychomaníacos.



Título original: Psychomania
Lançamento: 1971
Duração: 85 minutos
Direção: Don Sharp





Psychomania
Morrer para viver

            Psychomania é um daqueles filmes que eu não consigo classificar o gênero. Ele é normalmente considerado terror, porém, não diria que o é, pois não vejo nele nenhuma tentativa de assustar, ademais, também não lembro ter visto sangue nem cenas que sejam realmente violentas. Apesar disso, ele se enquadra bem no Café por ser um filme B pouco conhecido, que, apesar não ser uma maravilha, sai um pouco do convencional.


Motoqueiro, couro, suicidio, sapos... Explica isso ai direito

            Tom é um jovem motociclista “Vida Loka” que sai por aí, junto com seus amigos, tocando o terror na cidade. Após entrar em um “quarto secreto” da sua casa e ter umas visões estranhas, ele descobre que ao cometer suicidio ele voltara com vida eterna. Tom se mata e, logo depois, um por um, cada membro de sua gangue “The Living Dead” se suicida e retorna para causar ainda mais caos na cidade.

Suicide solution


            O filme já começa com Tom e sua tchurma (que usam capacetes com desenho de caveira que mais parecem coelhinhos, jaquetas de couro com seus nomes inscritos na frente e “The Living Dead” atrás) causando terror na cidade, fazendo com que um inocente motorista que cruza o caminho deles acabe atravessando a janela e morrendo (a cena é bizarra e não faz sentido nenhum). Podem me crucificar e/ou botar na fogueira, mas acho que podemos comparar Tom e sua gangue com Alex e seus drugues (escuto alguem comentando ao fundo “Que heresia”). Lógico que o filme passa longe, aliás, muito longe da genialidade de “Laranja Mecânica”, mas ambos os protagonistas são jovens inconsequente que possuem amiguinhos semelhantes a eles que, por tédio e diversão decidem matar, roubar e cometer crimes.
            Logo após a cena, Tom está com sua namorada no local onde o grupo se reúne quando começa a surgir o tema central do filme: o suicídio. Entre as conversas, pegação e o sapo que Tom captura no meio do mato e coloca dentro da jaqueta, surge um dialogo superinteligente:

Tom: - Vamos atravessar
Abby: - Atravessar?
Tom: - Para o outro lado.
Abby: - Como faremos isso?
Tom: - Nos mataremos.
(...)
Abby: - Ah, sinto muito, eu não posso.
Tom: - Por que não?
Abby: - Bem, eu prometi pra minha mãe que a ajudaria a fazer as compras de manhã. (Oi? Sim, fiz essa mesma cara que você ta fazendo agora)
(...)
Tom: - Bem, mas nós voltaremos, e vai ser tudo melhor (P*rr*, pra que você vai se matar se você quer voltar?)

            Enfim, voltemos para o filme. Após a cena Tom volta pra casa e guarda o sapo que capturou e, sem motivo nenhum e qualquer sem música, começa a dançar com sua mãe enquanto ela fala sobre os policiais e ele ensina a ela algumas girias. Em seguida, ele volta a conversar com sua mãe sobre mortos que retornam e sobre um quarto que está trancado desde que seu pai morreu, há uns 18 anos. Chantageando a mãe ele consegue a chave do local, sendo antes avisado pelo mordomo que o quarto poderia acabar com ele. Ele lhe dá um medalhão (que tem a figura de um sapo) para protegê-lo.

Long live to The Living Dead

            Nosso anti-heroi entra no quarto que tem apenas um espelho em seu interior, começando a ter umas visões loucas de LSD nas quais aparece um sapo e, depois, alguns flashbacks sobre sua infancia e sua mãe fazendo um pacto com alguem todo de preto, provavelmente o “coisa ruim”. Após isso Tom descobre que o segredo para ressucitar é acreditar que vai voltar, e seu pai morreu porque hesitou no ultimo momento.
            Nesse momento Tom fica ainda mais inconsequente e decide que vai se matar para retornar como imortal, e é isso que ele faz. Mais tarde, um a um os membros de sua gangue começam a seguir o lider, cometendo os suicidios mais sem noção possiveis.

Não sou eu quem assusta você, é o mundo

            O filme questiona diversas vezes o sentido da vida – e calma, ele não quer discutir de onde viemos, pra onde vamos, quem nos criou, existencia de Deus, se extraterrestres e pokemons existem (ahhh, como eu queria ter um pikachu) etc. Ele se propões ficar no “Se todos morreremos algum dia, por que viver?”, algo que, querendo ou não, faz sentido. Qual seria o sentido de ficarmos vivos trabalhando, aguentando chefes, brigando por dinheiro e todo o resto se todos vamos acabar comendo planta pela raiz? Não seria mais fácil nos matarmos agora e adiantar todo o processo? (Não, pelo amor de Goku, não se matem, estou falando sobre o filme, não estou querendo influenciar ninguém a se jogar da janela, da ponte, na frente do carro nem nada do tipo).
            No inicio do filme, após Tom falar com Abby sobre suicidio ele fala: “Não sou eu quem assusta você, é o mundo”, essa frase me fez pensar bastante sobre como vemos a morte. Será que nosso medo da morte é natural ou é algo construído socialmente? Afinal, vemos que em diversas sociedades as pessoas estão dispostas a dar a vida por algo em que acreditam (geralmente construída pela religião, mas pode ser morrer por um ideal qualquer), talvez por acreditar em algo além da vida ou maior que ela, mas aqui no mundinho capitalista ocidental é muito dificil encontrar pessoas dispostas a dar a própria vida por algo.
Será que isso não seria uma mostra de que a religião no “mundo ocidental”, por mais poderosa que possa ser, é fraca quando se trata da morte? Por mais que ela insista na ideia de céu, paraíso, enfim, salvação, é difícil encontrar pessoas que aceitem a morte simplesmente. Ninguém vê como algo positivo apesar de dizerem pra si mesmas que assim foi melhor (mesmo não acreditando nisso), por exemplo. No mais, também tenho minha teoria de que as pessoas que acreditam no céu e inferno tem medo da morte porque NUNCA sabem se vão pro céu ou pro inferno, mesmo dizendo pra todos os outros que são pessoas de Deus, mas enfim...

Eternidade além da morte


Outra questão que podemos apontar é a ideia de que as pessoas se tornem eternas e mais poderosas depois da morte. Não estou dizendo que quando morrer você vai voltar a vida bombado, estou dizendo que muitas pessoas passam a ter muito mais influencia após a morte. Quantas pessoas não foram ignoradas durante a vida e logo que morreram passaram a ser reconhecidas e tratadas como seres superiores?
A morte parece trazer certa divindade para a pessoa. Geralmente são esquecidos seus podres e passa-se a celebrar somente as coisas boas. Posso estar errado, mas sinto que existe muito tabú em torno da morte. Parece que logo depois que as pessoas morrem é pecado mortal falar coisas ruins sobre ela.
É interessante observar o comportamento social diante da morte de alguma celebridade, todos passam a comentar sobre ela e admirar, mesmo que nunca tenham conhecido seu trabalho e nunca tenham se interessado pela mesma. Podemos exemplificar isso com a morte da Amy: 95% ou mais dos comentarios sobre ela em vida era coisas do tipo: “Aquela drogada”, “Viu como ela ta feia?”, “Nossa, como ela não morreu ainda?” “A Amy adora sua carreira, hã, hã, entendeu o trocadilho?”. Bastou que morresse que os comentarios inverteram: esqueceram toda a historia das drogas - que foi um dos motivos da sua morte - e passaram a ser: “Nossa, mas que voz essa mulher tem”, “Uma grande perda pra musica”, “Vai descansar ao lado de Janis, Jim, Jimi e Kurt”. Dizendo melhor, durante a vida não passava de uma drogada, só foi morrer que virou exemplo (além da venda de discos aumentar drasticamente).
Acho que vou gravar algumas coisas e logo depois me matar, talvez isso me faça famoso e esqueçam todos meus podres.

Contra a moral e os bons costumes

Ok, eles se matam, voltam, mas e aí, qual é a do filme?
Humm... Deixe-me ver... Já falei que eles são rebeldes e causam na cidade? Já?  Então acho que isso é tudo.
Sim, o filme se resume a adolescente com roupas de couro levando caos pra cidade. Tem algumas cenas bem legais, como eles entrando de moto na delegacia e no mercado, entre outras, mas, em geral, não sai disso. O roteiro acaba sendo muito vago e você não entende direito o por quê das coisas.
Ok, nós sabemos que a mãe de Tom fez um pacto que envolvia ambos, então até compreendemos ele retornar dos mortos, mas... e seus amigos? Em nenhum momento os vemos fazendo nenhum pacto, com isso, notamos que no universo do filme só de acreditar que você vai voltar já é o suficiente para que volte. Ora, se fosse assim muitas pessoas voltariam e toda a trama com o homem de negro desapareceria. Pra quê pacto se ressuscitar é tão normal?
Há muito enfoque na parte dos jovens inconsequentes e o roteiro é esquecido. Qual o sentido do sapo? Qual foi o pacto? Existe alguma relação do pai de Tom na história? Existe alguma consequencia por estar morto? Enfim, muitas perguntas e nenhuma resposta, mas dane-se! Temos jovens motoqueiros se divertindo de uma maneira sádica na cidade.

E aí, me jogo ou não?


O filme é dos anos 70, por isso é bem datado, de modo que pra alguns pode causar certo estranhamento, principalmente se você esperar bons efeitos especiais e derivados. Entretanto, pra época é um filme interessante. Ele é bem soft, pois, como disse anteriormente, não vemos cenas de violência explícita, nem monstros, nem nada do tipo.
Na fotografia não vemos nada de mais e a trilha sonora apesar de simploria é bastante interessante, principalmente na música que um membro da guangue canta no enterro do nosso herói.
Não diria que o filme é bom, talvez fosse na época, mas ele tem suas qualidades, embora nada “must see”. Eu recomendo se você gosta de filmes antigos e não se importa de ver um filme que não acrescenta muito na sua vida. Ele é bem interessante pra ver como eram os filmes antigamente e suas simplicidades. Um bom filme pra passar o tempo; nada além disso.



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