quarta-feira, 24 de abril de 2013

Resenha: Mestre dos desejos (Wishmaster)


            Você é uma daquelas pessoas que vivem sonhando e desejando uma vida cheia de sucesso, dinheiro e mulheres/homens peladas(os) para te fazer massagem, colocar uvinhas na sua boca e outras cocitas más? Além disso, não pode ver uma fonte que vai logo jogando a moedinha e fazendo um pedido, sai esfregando todas as lâmpadas que encontra pela frente pra ver se sai um gênio que conceda os tais três desejos?
Fama, dinheiro e mulheres parece algo muito atrativo, afinal, essa é a finalidade (até agora sem sucesso) desse bloguinho, mas depois de ver alguns filme eu digo: “Cuidado com seus desejos, eles podem virar realidade”






Título original: Wishmaster
Lançamento: 1997 (EUA)
Duração: 90 minutos]
Direção: Robert Kurtzman





Wishmaster
Quem disse que um gênio iria salvar sua vida com três desejos?

            Após libertar, sem querer, uma antiga entidade, Alexandra passa a ser perseguida pelo terrível Djinn, que precisa realizar três desejos daquele que o libertou para retomar seu reinado de caos na terra.

Ops, foi sem querer...



            Assim como diversos filmes que já passaram (e irão passar) aqui pelo Café, Wishmaster é uma daquelas obras que começam por uma cena retratando certo passado para contextualizar uma lenda e, só depois, levar o espectador ao presente e apresenta-lo a história de fato.
            O filme inicia-se no ano 1127, quando um rei (?), como segundo pedido, pede para o Djinn mostrar-lhe coisas maravilhosas, que o surpreenda. Entretanto, a surpresa que é dada a ele não é bem a que homem esperava, gerando caos e terror a todos os presentes no local. Antes de realizar seu terceiro desejo um feiticeiro, consegue aprisionar o “gênio do mal” em uma pedra mágica, evitando que ele taque o puteiro nesse mundinho.
            Centenas de anos depois, somos levados a um porto onde uma estatua estava sendo transportada, no entanto, devido a bebedeira de um dos funcionários, a estatua acaba caindo do gancho e matando uma pessoa. Mais tarde outro funcionário acaba encontrando uma jóia no meio da estátua quebrada e a revende numa loja de penhores cujo dono, esperto que é, leva-a para especialistas com o objetivo de ganhar muito mais do que aquilo que ele ganhou na venda. E é assim a pedra vai cair na mão de nossa protagonista.
Alexandra é uma avaliadora de pedras preciosas e, nas horas vagas, treina um time de basquete infantil. Durante a avaliação, ela acaba esfregando a pedra (tipo a lâmpada no Aladim, lembra?) e libertando o capetão da historia, que a partir daí começa a perseguir nossa heroína, a “realizar desejos” e roubar almas por onde passa.

Objetificação do desejo

O mestre dos desejos” é um daqueles filmes que tem uma proposta bem simples, que cria um cenário, um “monstro” e algumas vitimas, não estando preocupado em desenvolver criticas nem nada relacionado, contudo, mesmo usando o contexto apenas como desculpa para matar personagens, o filme brinca com a questão do desejo e o quão perigosos eles podem ser.
Antes de tudo vamos pensar na “evolução” do monstro em si. O primeiro contato que temos com ele (no tempo presente) é quando o personagem está preso dentro de uma pedra preciosa, ou seja, algo muito valioso que desperta desejo de muita gente, seja para vender e ganhar dinheiro ou para usar como ornamento e se destacar (e impressionar) no meio de algum grupo. Após a pedra ser inserida em uma maquina para uma melhor analise, ela acaba libertando o Djinn que – inicialmente - tem  aparência de demônio, todavia, conforme o Djinn vai realizando desejos e, consequentemente, roubando almas, ele acaba se tornando mais forte e mais parecido com um humano. Isso diz algo pra você?
Pegando essa evolução do Djinn podemos ir um pouco mais a fundo na interpretação da obra. Tudo começa com um simples objeto (uma pedra) que tem seu valor, mas nada além disso - e é assim que ela é comercializada pela primeira vez: um leigo que encontrou e acabou vendendo por um preço qualquer.  Logo após quando o comprador passa para alguem experiente analisar e começam a perceber que existe um valor ali que não se refere apenas ao objeto, a pedra deixa de ser uma simples pedra e ganha vida. Assim, conforme esse ex-objeto passa a interagir com as pessoas, satisfazer seus desejos e roubar suas almas, ele passa a se assemelhar cada vez mais a um homem.
Com isso em mente, podemos pensar na humanização do objeto.
Como assim? Não entendeu?
Eu explico, jovem bebedor de Café: vivemos em uma tal sociedade do espetáculo, como já dizia um tal de Debord, que, explicando de maneira bem resumida, seria a espetacularização de tudo que conhecemos na sociedade, quer dizer, as coisas não podem ser apenas coisas, elas precisam ser algo mais. Muitas vezes, por exemplo, quando saímos pra comer não estamos buscando apenas comida, mas também uma forma de entretenimento, um ambiente diferente, algo que acrescente valor ao nosso desejo inicial, a comida nessa caso. Podemos pensar igualmente em roupa: a função da roupa é esconder nossas vergonhas (ou orgulho) e nos proteger do frio, porém, quando compramos uma, a última coisa que consideramos é sua utilidade; nós queremos aquela que esteja na moda, que seja feita por aquele estilista bacana, aquela que nos insira num estilo, etc. A roupa deixa de ser roupa e passa a ser algo que age em conjunto com sua personalidade, ela passa a ser algo mais. Não me estenderei muito aqui, mas seguindo essa lógica você pode começar a pensar em diversas coisas que tem um valor além daquilo que realmente são e, assim, vai chegar à conclusão que quase tudo em nossa sociedade é mediado pelo espetáculo para ser algo mais do que apenas um produto; desde o noticiário na tv até a camisinha que você usa (ou deveria usar).



Voltando ao filme. O que era apenas uma pedra passa a ser a fonte de todos os problemas devido ao seu fortalecimento, seja direto ou indireto. O Djinn é uma criatura que, apesar do seu poder, só pode utiliza-lo quando um pessoa faz um pedido, sendo assim, o poder desse ser está, de certa forma, em nossas mãos, assim como a aura que cerca os objetos que tanto desejamos. Por mais que os objetos ganhem poder em nossa sociedade, ele só tem esse poder porque nós criamos esse poder, com isso, se esses objetos promovem preconceito, morte, depressão e coisas mais, é por nossa culpa; não podemos terceirizar a culpa sendo que nós mesmos cultivamos essa humanização dos objetos.
Resumindo: as pessoas perderam o controle sobre as coisas materiais de modo que o produto passou a controlar o ser humano, roubando sua alma de certo modo. Não se julga a pessoa pelo o que ela é, mas sim pelo que ela tem, e isso fomenta cada vez mais aquela coisinha que as agências de publicidade trabalham para despertar em seus consumidores, o desejo.

E o fogo deu a luz aos Djinns...

            Logo no inicio da história, o narrador diz algo como:

Deus soprou a luz e a luz deu vida aos anjos. E a terra deu a luz aos homens. E o fogo deu a luz aos Djinns, criaturas condenadas a morarem no vazio entre os mundos.”

            Isso dá a entender que os Djinns são criaturas que vieram após os homens, ademais, do jeito que é colocado (apesar de não estar escrito), eu entendo que, de alguma forma, a culpa pela criação desses seres acaba recaindo no humano já que, apesar dos humanos não serem os criadores diretos do fogo, eles são capazes de manipula-lo e utiliza-lo como forma de poder.
            Ou poderíamos pensar na questão do fogo em um sentido menos literal, como uma representação da cobiça. Indo por esse lado, os Djinns são a representação oposta da nossa própria cobiça e desejo: sempre estamos desejando algo mas pensando apenas no lado bom daquilo, nunca pensamos na consequência que aquilo pode ter, o vilão do filme acaba fazendo isso, ele realiza o seu desejo, mas sempre pelo lado “negativo”. Como, por exemplo, a garota que pede beleza eterna e o Djinn a transforma em um manequim - ele realizou o desejo da garota, entretanto não do modo que ela gostaria.
            O vilão acaba sendo uma forma de mostrar que nós não sabemos o que queremos.

Cuidado com aquilo que desejas...

           
            A tal pedra que aprisionava o capiroto estava dentro da estátua de um antigo deus, Ahura Mazda, que, segundo a lenda, a força adversária a entidade era a própria sombra, ou seja, ela mesmo era a fonte do mal. Está entendendo onde quero chegar?
            Nós somos como Ahura Mazda: não somos deuses (a não ser que você queira me adorar) e também não temos uma pedra preciosa dentro de nós (se fossemos um blog “fofo” falaríamos que temos a pedra mais preciosa dentro de nós que é o coração, entretanto não somos fofos e muito menos temos coração), porém aprisionamos um demônio dentro de nós e nossa sombra é perigosa pra caralho.
            O demônio dentro de nós seria o desejo, algo que muitas vezes tentamos controlar e geralmente não dá certo. E quanta merda não fazemos por culpa disso! Sabemos que não deveríamos comer aquele hambúrguer com bacon, mas o desejo fala mais alto, sabemos que se ficar com tal pessoa vai dar merda, mas mesmo assim vamos, sabemos que aquela propaganda é totalmente manipuladora, mas não conseguimos resistir, e assim por diante.
            Quanto à questão da sombra, me refiro ao fato de que muitas coisas que fazemos é culpa nossa, porém indiretamente, dizendo de outro modo, fazemos coisas pensando naquilo que estamos vendo, não pensamos nas consequências indiretas.
            Entendeu porque fazemos tanta merda? Temos problemas para controlar nossos desejos e, ao mesmo tempo, não paramos para pensar nas consequências. Os nossos desejos são perigosos por isso, nem sempre sabemos o que queremos e muitas vezes nosso desejo é o desejo dos outros.
No filme, o Djinn é destinado a realizar os três desejos da Alex, mas enquanto ele não a encontra vai roubando a alma das pessoas, quer dizer, muitas vezes pro nosso desejo se realizar alguém tem que se foder.
             
Se eu encontrar o Djinn devo fazer meu três pedidos?

            Claro, desde que você deseje putar... amor, cachaça e dinheiro. Não me venha com paz mundial, planeta verdinho e essas baboseiras toda.
            Wishmaster é um clássico dos anos 90 que merece ser visto. Ele está muito mais pra um filme de terror do que um filme trash: até tem uma cena ou outra bizarra, mas se dá muito mais pela época do que pelo filme em si.
Apesar de ter um roteiro simples e previsível, é um filme interessante com boas atuações e com a participação especialíssima do Robert Englund (nosso queridíssimo Freddy Krueger).
Enfim, se você tiver apenas três desejos, gaste com as coisas que citei anteriormente, mas se você ainda não encontrou nenhum gênio, nenhum(a) gatinha(o) quer realizar seus desejos e também não tem dinheiro para satisfazer aquele desejo criado pelas propagandas, vá assistir “Mestre do Desejos” que, apesar de não ser melhor que dinheiro, sexo e cachaça, dá pra passar o tempo sem entediar.

Trailer

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