domingo, 7 de abril de 2013

Resenha: O exorcista diabólico (L'éventreur de Notre-Dame)


Você provavelmente deve conhecer alguma dessas pessoas que ficam tentando te converter pra religião dela, sempre falando o quão lindo e maravilhoso é o Deus no qual ela acredita por mais que você repita milhões de vezes que já tem sua religião ou que não crê nessas coisas.
Muitas pessoas assim já são um pouco perturbadas, como notamos facilmente, agora imagine se ela tivesse uns genes da psicopatia e saísse por aí matando todo mundo que não compartilhe da mesma ideologia. Imaginou? Então...




 

Título original: L'éventreur de Notre-Dame
Lançamento: 1975 (Bélgica, Espanha, França)
Duração: 95 minutos
Direção: Jesús Franco





O exorcista diabólico
O meu Deus é mais legal que o seu, lero lero



Tínhamos pensado em um outro filme para tratar essa semana, entretanto com as infelicidades da vida e a morte de Jesús, decidimos fazer uma pequena homenagem a esse grande diretor espanhol e resenhar uma de suas obras.

Isso é coisa do Capiroto!

Depois de presenciar uma missa negra, um fanático religioso decide livrar o Tinhoso do corpo de todos os envolvidos nesse rito satânico.

Pareço bonzinho mas sou trevoso na cama


O filme já começa com uma mulher amarrada "peladjenha" sendo torturada por outra boazuda cas peitchola de fora, enquanto um grupo de pessoas somente assiste. Depois de chicotadas, fetiches, sangue, uma pomba sendo decapitada e sexo, descobrimos que tudo não passou de uma encenação para o entretenimento daquele grupinho de pessoas ricas ali presentes.
            A historia mesmo começa com um ex-padre (Vogel) levando uma matéria sobre erotismo e sadomasoquismo para uma revista, e, ao que tudo indica, ele é colabora frequentemente com esse tipo de histórias, entretanto, utilizando-as não como fonte de prazer igual a você leitor(a) safadinho(a), mas sim para as entender. Segundo ele mesmo: “Para combater o mal, precisamos conhecê-lo”.
            Vogel acaba descobrindo que os responsáveis pelo jornal são simpatizantes desse tipo de fetiche e que estão prestes a realizar uma missa negra, passando assim a investigar esse tipo de encontro, vigiando aqueles envolvidos no tal ritual e, também, buscando em alguns momentos expor suas ideias de maneira irrefutável* para aqueles que contrariam se valores.

*Expor ideias de maneira irrefutável: falar que a pessoa está possuída enquanto exorciza, estrangula, esfaqueia, etc.

Eu te exorcizo

            “O exorcista diabólico” é um filme com um roteiro bem simples que, entretanto, constrói muito bem uma critica à moralidade cristã e à necessidade de seus devotos imporem seus valores sobre demais pessoas que não seguem tal ideologia.
            Vogel é um ex-padre que acabou sendo expulso da igreja por conta da sua ideologia extremista, contudo, ser expulso da igreja não fez com que ele revesse seus valores e tentasse mudar; pelo contrario, ele acabou usando o tempo vago para se aprofundar em diversos assuntos que condenava para, então, encontrar formas de combater o mal. Quando o padre descobre que tudo o que sempre combateu está acontecendo próximo a si e sendo praticado por pessoas conhecidas, acaba se envolvendo e tomando parte na luta de Jesus contra os pecadores. Entretanto, o que o “protagonista” não vê é que a missa negra, bem dizendo, não passa de um fetiche sexual, quer dizer, é apenas uma desculpa para pessoas ricas caírem na suruba e treparem até dizer chega. Assim, por mais que o sexo seja condenável para o padre, ele está passando a faca em todo mundo apenas por suposições, pois crê estar exorcizando as pessoas que praticam a missa negra quando, na verdade, tudo não passa de um teatro, em outras palavras, a figura da Igreja condenando pessoas apenas por suposições. Acho que você já escutou isso antes, não?
            O filme faz uma critica justamente a esse pré-julgamento da Igreja em relação a todos aqueles que pensam de maneira diferente. Quantas vezes não vemos pessoas que são julgadas e, em alguns momentos, até ser mortas justamente por pensar diferente? O Cristianismo (mas outras religiões também) devido ao seu poder acabou impondo ideologias e comportamentos que influenciaram a sociedade, acabando por repercutir até os dias de hoje mesmo por aqueles que já não pertencem a igreja. No Brasil, por mais que sejamos ateus, agnósticos, satanistas, macumbeiros, ou qualquer outra coisa, não podemos negar nossa educação e absorção – mesmo que inconsciente - dos valores católicos. Não é fácil mudar uma doutrinação milenar de uma hora pra outra. E ainda que consideremos que aos poucos estamos mudando, muitos ainda continuam com aquele pensamento de séculos passados... Outros até se tornam presidentes de comissões de direitos humanos - vai entender.
            Há um comodismo bem grande em muitas pessoas dentro das religiões que as impede de questionar sua própria cultura, sendo que, mesmo quem segue o dogma impensadamente, nota que frequentemente esse discurso se contradiz, de maneira que será preciso fingir ignorar isso pra não se questione e destrua tal mundinho de fantasias. Não é porque sempre nos ensinaram uma coisa que ela é necessariamente verdade, aliás, isso serve pra tudo, não apenas religião – então não se sintam assim tão seguros, leitores descrentes.
            Vogel condena as pessoas por aquilo que ele julga certo, e eu pergunto a vocês: quem deu esse direito a ele? Por que a ideologia dele merece ser imposta sobre as outras? O que transforma a ideologia dele em verdade e todo o restante em coisas condenáveis?
            Se você respondeu respectivamente: ninguém, não merece e nada, parabéns, no final da aula ganhará um pirulito.
            Um dos maiores problemas da religião é que, em muitas circunstâncias, ela deixou de ser uma filosofia de vida e passou a ser um instrumento de condenação, porque, segundo certos idiotas, Cristo condena gays, negros são amaldiçoados, mulher é um ser inferior, baboseiras e mais baboseiras que escutamos todos os dias, ainda mais nesses tempos felicianos. Podem me chamar de herege, mas - assumindo que ele tenha dito e pensado isso - quem é Cristo pra falar como eu me visto, quem (e como) eu como, pra quem dou meu cú, que sou menos pessoa pela minha cor de pele? Eu tenho minhas dúvidas que ele tenha condenado essas coisas, ainda mais porque lyndo, loiro e de olhos azuis acho meio difícil, mas tirar vantagem dos outros, roubar dinheiro e etc...
            Os participantes na missa negra estão apenas em um momento de entretenimento e prazer, não estão contrariando, maltratando, discriminando ninguém, mas aquele que espalha a palavra de Deus está fazendo tudo isso - não é contraditório? Por sinal, não é estranho que aqueles que pregam paz, harmonia e amor, condenem mais que aqueles que vivem a própria vida sem se importar com esses valores. Não tá na hora de parar de se preocupar com o cú do outro?

Tenho vontade mas papai não deixa

            É possível notar que, por mais que Vogel condene aquelas pessoas que participam dos rituais, ele sente uma certa inveja deles. Todas a vezes em que observa ou está próximo a alguma mulher nua, ele parece estar lutando contra o prazer. Percebemos no seu rosto uma vontade contida de pegar a mulé e fazer mil loucuras com ela, entretanto, ele se contem devido aos valores com os quais sempre conviveu.
            Sabe aquela coisa que sua vó fala “quem desdenha quer comprar”? Então, isso se aplica no filme e no caso de muitos religiosos. Por mais que neguem, quantas vezes não percebemos que alguém condena outra só porque não pode (ou tem medo de) se comportar da mesma maneira. Quantas pessoas não discriminam gays porque morrem de medo de sair do armário? Quantas pessoas não discriminam aquele que leva uma vida cheia de prazeres porque vai ser julgado se sair da castidade?
            Claro, também existem aquelas pessoas que escondem suas próprias origens para condená-las. Não vemos por aí negros que não admitem ser negros, gays que reprimem suas vontades apenas para pertencer a igreja, ou até pessoas que fazem chapinha pra esconder suas descendências?
            E mais: sempre que as pessoas quebram essas regras que decidiram seguir elas acabam transferindo a responsabilidade, quer dizer, nunca é culpa minha, afinal sou um pessoa de Deus, é culpa do Diabo que estava me tentando, ou aquela clássica: estou fazendo o trabalho de Deus.
            Por mais que eu não goste muito da tradução de títulos de filmes, “Exorcista diabólico” acaba representando um pouco a ideia geral do filme. O exorcista não expulsa o mal; ele é o próprio mal. O que representa muitas pessoas e organizações que julgam fazer o bem, mas apenas levam o terror para aqueles que não tem nada a ver com a história.

Devo realizar missas negras?

            Claro, meu jovem, desde que seus sacrifícios sejam apenas teatrais e os únicos objetivo da missa sejam o sexo e o prazer.
            Como já disse antes, “Exorcista diabólico” é um filme que preza pela simplicidade: não temos reviravoltas, nem momentos marcantes, mas nada que desqualifique o filme. Como uma das características do Jess Franco, há muito erotismo, porém nada exagerado e tudo encaixando perfeitamente com o roteiro. Há também algumas cenas de gore, como o momento em que ele abre a barriga da mulher com a faca e os órgãos ficam a mostra - nada tão chocante que já não estejamos acostumados.
            A trilha sonora também é algo que se destaca: ela dá um clima interessante pro filme quebrando alguns clichês com os quais estamos acostumados.
            Bom, mas resumindo, “Exorcista diabólico” é um clássico esquecido que merece muito ser visto. Não posso dizer que o filme traz algo novo que jamais tenhamos visto antes, porém tem simplicidade e uma boa direção que fazem dele um ótimo filme. O erotismo, as mortes e a critica são muito bem colocadas, não pecando pelo exagero em nenhum quesito.
            Minha recomendação é: convide as amigas(os), prepare uma missa negra cheia de sexo, prazer e arte e logo após assistam esse clássico.

Trailer*:    

             *Não encontramos o trailer do filme, então postamos a cena inicial. É interessante notar que nesse video as atrizes estão vestidas, diferente do filme.

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