sexta-feira, 17 de maio de 2013

Resenha: Redd Inc.


            Você gosta do seu chefe e do seu trabalho? Pode falar a verdade: ele não deve freqüentar esses bloguinhos de gente sem classe como eu e você. Eu sei que você também adora quando seu chefe está ausente pra ficar conversando com os amigos ou jogando Candy Crush. Não estou te julgando, apenas quero alertar que existem alguns chefes que são um pouco extremistas quando se trata de trabalho bem feito, então converse, divirta-se quando tiver um tempo livre, mas nunca, nunca mesmo faça seu trabalho de qualquer jeito só pra ir embora mais cedo, ainda mais se você trabalha em uma empresa chamada Redd Inc.



 

Título original: Redd Inc.
Lançamento: 2012 (Austrália)
Duração: 93 minutos
Direção: Daniel Krige





Redd Inc.
O sangue pela empresa

Logo após fugir da clinica na qual estava preso, um executivo, acusado de decapitar uma mulher, seqüestra seis pessoas relacionadas ao seu julgamento e as mantém acorrentadas em um escritório, obrigando-as a trabalhar para ele.

Corte de funcionários


            Podemos ver Redd inc. como um espécie de Jogos Mortais, porém com uma proposta diferente por trás. Temos os mesmos elementos: pessoas em cativeiros tendo que provar que são dignas de continuar vivas, algo que no jogos mortais se dá pelo “valor à vida”, já em Redd inc. as pessoas continuam vivas se fizerem seus trabalhos de maneira correta.
            Antes de assistir o filme eu esperava algo totalmente diferente do que vi. Por se tratar em pessoas acorrentadas em uma mesa de escritório sendo obrigadas a trabalhar, aguardei um filme que focasse na critica social sobre alienação do trabalho e coisas do tipo, mas não foi assim. Ele tem um pouco disso, mas logo no inicio já percebemos que o filme tomará um rumo diferente.
             Ok, menos tititi e mais trabalho, afinal, nós queremos produtividade.


            A história já começa com o assassinato de uma “boazuda” da empresa e todos os indícios colocando Thomas Reddmand como o assassino (uma mulher decapitada dentro do elevador cheio de sangue e Thomas com um machado na mão). Logo em seguida, temos aquele monte de recortes e reportagens de jornais - típico de filmes de terror - sobre sua prisão etc. Não apenas o assassinato da loirona, mas outro crimes foram atribuídos a Reddman, pois se ligavam aquele por meio de um padrão. A ultima noticia que nos transmitem é sobre sua morte na clinica, mas você, como fã de terror, sabe que ele está vivão.
            Vamos agora ao palco principal do filme.
Nossa protagonista é Annabelle, a jovem que “presenciou” o crime. Devido ao insucesso de conseguir emprego em empresas ela ganha a vida fazendo strip online, sem deixar de procurar outro emprego para mudar de vida. Depois de receber algumas mensagens estranhas durante um strip, a moça é atacada e seqüestrada em seu apartamento. Quando acorda está em uma mesa de escritório acorrentada com outras seis pessoas.
E que os jogos comecem... ops...

E que o trabalho comece


É nesse momento que o filme começa a se assemelhar ao “Saw”, entretanto, apesar de algumas ideias parecidas, ele consegue se sustentar nas próprias pernas. Voltemos à história.
Os personagens descobrem que todos estão envolvidos com a prisão do Reddman e que ele ainda está vivo (Jura?). Sem muitas explicações, por enquanto, todos eles são obrigados a trabalhar e seguir alguma regras: três pausas pro banheiro por dia, duas pausas sociais, refeições etc. Reconhece?
O primeiro trabalho dado a eles é digitalizar algumas folhas. Bom, apesar de não aprofundar muito, é possível ver uma certa critica a alienação do trabalho. Temos seis pessoas acorrentadas as suas mesas e obrigadas a fazer um trabalho que não compreendem o motivo, o motivo? Continuarem vivas.
Bem, nossas vidinhas proletariadas não são muito diferente disso: temos um trabalho que não gostamos para comprar coisas que nem sempre precisamos, mas que persistimos nele porque algo acima de nós nos obriga, caso contrario sofreremos. As personagens do filme tem um psicopata que vai matá-los caso qualquer coisa saia errado, enquanto nós, se não trabalharmos, não desfrutaremos desse paraíso maravilhoso chamado capitalismo, afinal, prefiro a morte do que não poder comprar umas calças da Diesel, uns uniformes... Digo, roupas da Abercrombie, óculos da Calvin Klein etc.

Pode até parecer absurdo pra alguém pobre igual a você que não compra Dolce Gabbana e derivados, porém, a questão é que o filme não deixa de ser um triste relato das nossas vidinhas programadas, assim como na trama eles são obrigados a seguir as regras, nós também somos condicionados a tal: acordamos sempre no mesmo horário, tomamos nosso café, pegamos transito, chegamos em um trabalho que não gostamos para aturar pessoas que gostamos menos ainda, passamos o dia fazendo algo que muitas vezes não compreendemos sua dimensão, e no final do mês... ahh o final do mês, é sempre aquela mesma tristeza. O mês vira, o governo te fode sem nem dar um beijinho antes e tudo se repete. 
Colocando de outro forma, assim como ocorre com os personagens no filme, muitas vezes nossa vida não deixa de ser apenas uma espera tediosa da morte que não chega. Ficamos repetindo nossa rotina dia após dia, sem sair das regras pra evitar que alguém “a cima da gente” nos puna. O Reddman é um bom exemplo disso, apesar de ter se tornado um assassino, ele se mantém cordial e nunca se coloca como se estivesse errado, sempre dando a entender que está sendo justo. “Você tem três pausas pra banheiro e duas pra socializar, o que mais você pode querer?” Outro exemplo disso seria a questão da marquinha: toda vez que alguém descumpre alguma regra, Reddman faz um corte na testa da pessoa; quando a pessoa consegue cinco marcas ela é eliminada. Não deixa de ser uma alusão as advertências no trabalho, claro que você não vai morrer... Eu acho. Essa questão de alertas antes de ser cortada, no entanto, não deixa de ser uma forma de jogar a culpa em cima do empregado e deixar de lado a responsabilidade do empregador, afinal, se você tem cinco marquinhas (advertências) é porque você não está trabalhando direito. Logo, se você está sendo degolado (demitido) a culpa é totalmente sua e, eu, seu superior, só estou fazendo meu trabalho.
O filme faz diversas referencia a “chavões” usados por diretores para justificar seus atos. Eles precisam ser “justos, porém firmes”.

Eu sou um ótimo funcionário, meu chefe que não presta...



Redd inc. é um filme cheio de reviravoltas e lá pelos 30 primeiros minutos de filme temos a primeira delas. Até agora pode parecer um filme que foca no critica a alienação do trabalho e a demonização do empregador, entretanto, aqui temos uma mudança significativa. O filme mostra que nem sempre os empregados são os bonzinhos e que muitas vezes o chefe tem boas razões para fazer alguns cortes. Não me interprete mal, leitor, não estou dizendo que é legal cortar a cabeça dos funcionários... Na verdade, é, mas não na vida real.
Até agora estavamos pensando: “coitadas dessas pessoas, foram sequestradas e estão sendo torturadas sem motivos”, todavia nos enganamos e rapidamente a critica se inverte - será que são os chefes mesmos os culpados ou nós mesmos, os subalternos?
Antes da metade do filme é revelado que Reddman não é o Head Hunter (nome dado ao serial killer) e que as pessoas foram sequestradas justamente para descobrir quem  foi o verdadeiro assassino.
Você deve estar ai no trabalho, lendo esse bloguinho sobre filmes sanguinolentos e minimizando sempre que o chefe passa, e se perguntando: Se esse Reddman e meu chefe são uns filhos da p... que culpa eu tenho nisso?
Bom, quando Reddmand foi capturado ele foi enviado para uma clínica que faz comerciais bonitos na televisão falando sobre seus ótimos tratamentos, sobre o quão respeitado são seus clientes, entre outras coisas, contudo, que, na verdade, utiliza de meios pouco ortodoxos na reabilitação. Reddman se tornou um psicopata depois de ser jogado na clinica, ou seja, se tá todo mundo se fodendo é por culpa deles mesmos que não fizeram o trabalho direito e acabaram condenando uma pessoa inocente.
Em certo momento é revelado que o policial tinha um álibi pro Reddman, mas que acabaram jogando pra debaixo do tapete para fechar o caso mais rápido. Assim como outras falsas acusações foram feitas somente para satisfazer a sociedade que queria a cabeça do assassino logo. Pondo em termos claros: se Reddman ou seu chefe é um psicopata, a culpa é sua, você poderia estar na mesma situação.
Sim, você mesmo, não finja que não está lendo!
Quantas vezes você não fez algo de qualquer jeito só pra terminar seu trabalho logo e ir pra casa? Quantas coisas você não varreu pra debaixo do tapete só pra não ter mais trabalho? Quantas vezes não fez hora no banheiro? Quantas vezes não ficou brincando no face quando seu chefe não estava presente? Preciso falar mais?
A questão é: o trabalho se torna algo tão rotineiro que deixamos de pensar nas consequências que aquilo pode ter porque dependendo da consequência ela não nos atingira diretamente. Já que não ira nos atingir, foda-se, né? Não. Independente do seu trabalho, ele sempre influenciará na vida de terceiros, seja você um faxineiro, um professor, um arquiteto, um ator pornô ou qualquer outra coisa.
Irei falar algo aqui o que pouquíssimas pessoas sabem e é bem provavel que  ninguém tenha te dito antes, mas que você precisa saber: trabalho não serve apenas para ganhar dinheiro.
Que cara de espanto é essa meu jovem? Você está se perguntando pra que serve então, certo?
O trabalho é uma forma de comunhão social, quer dizer, cada um faz sua parte para que a sociedade flua melhor. Sendo assim o trabalho não é algo individual, você não trabalha para seu chefe, você trabalha pra sociedade como um todo, o salário é uma forma de você trocar seu trabalho pelo trabalho de outra pessoa e assim por diante. Eu sei que a sociedade não funciona exatamente desse jeito e existem diversos fatores que interferem, entretanto não deixa de ser sua base.
Por isso, quando você faz seu trabalho de maneira negligente, você está prejudicando a sociedade como um todo. Claro que existem vários níveis de dano, mas não é porque seu dano é menor que você pode se dar ao luxo de prejudicar os outros inconscientemente. Voltando ao filme, o trabalho mal feito de diversas pessoas resultou em um prisão injusta, que deixou o verdadeiro culpado solto e consequentemente gerou mais mortes por culpa do mal serviço prestado pela clínica. Sendo assim, Reddman é o fruto de diversos trabalhos mal feitos. Não tiro a culpa dele, pois quem passou a faca foi ele, entretanto existem culpados maiores por trás, afinal, se eu ignorar essa papelada não vai ter problema nenhum.
Se o seu chefe é um filho da puta, talvez parte da culpa seja você.
Calma, calma, não estou dizendo que você é sempre o culpado e que seu chefe é só um reflexo do seu trabalho mal feito. Onde quero chegar é: precisa existir uma harmonia entre ambas as partes; não adianta ficar falando mal dele sendo que você mesmo não faz sua parte, assim como ele não pode ficar explorando sendo que você está fazendo seu trabalho direito. Só não venha com essas desculpinhas de proletariado preguiçoso “só sou assim porque ele merece”, não terceirize seus probelmas, porque o trabalho não fica só entre vocês dois.

Trabalhando para um mundo melhor


Certo, não falarei quem é o assassino pra não estragar a surpresa caso você assista ao filme, entretanto gostaria de adiantar a motivação do assassino, então, caso não goste de nenhum tipo de spoiler, pule para o próximo tópico.
Assim que descobrimos quem é o assassino ele tenta se colocar como inocente, afinal, como ele poderia ser malvado se ele estava eliminando empresários corruptos? Ele não é malvado, ele estava fazendo um trabalho social.
Só para finalizar toda essa discussão sobre trabalho, o assassino tem uma motivação que ele considera correta para o bem da sociedade, mas não deixa de ser apenas uma reafirmação de sua ideologia. Ele não faz porque pensa em um mundo melhor, apesar de acreditar nisso, ele faz para ele mesmo. Algo que ele acredita ser para o povo não deixa de ser uma ação individualista, qualquer tipo de ação acaba tendo conseqüências.
Com isso, ele se assemelha àquele que ele mesmo combate. Quantos empresários não fazem coisas erradas, mas se convencem que estão fazendo um bem comum? Ambos estão cometendo crimes para tirar alguma vantagem disso (não digo apenas financeira). Quantas vezes não vemos grandes empresas fazendo campanhas super legais para melhorar o meio ambiente, ajudar pessoas menos favorecidas e tal, porém, quando analisamos direito, percebemos que existe um interesse privado por trás. Lembrem-se amiguinhos, no mundo corporativo e nesse nosso mundinho como um todo, NADA, absolutamente NADA é de graça.
Empregados de um lado e chefes do outro, ambos possuem as mesmas convicções, entretanto um detém o poder e outro não; se mudarem de lado a história continuará sendo a mesma.

Quando ficar rico devo seqüestrar meus funcionários e obrigá-los a trabalhar até a morte?

Não, lembre-se que você já foi proletário um dia e sofreu com isso, portanto, trate bem seus funcionários não porque você é legal, mas porque funcionários motivados trabalham melhor.
Redd Inc. está muito longe de ser um clássico, mas faz muito bem aquilo que se propõe a fazer. Tirando um cena ou outra, eu não o classificaria como trash: ele tem boas cenas de gore, um vilão interessante, uma crítica bacana e um roteiro cheio de clichês que, apesar disso, consegue se destacar e prender sua atenção durante todo o filme. (E não podemos esquecer de citar a participação mais que especial de Tom Savini)
O maior mérito do filme são suas reviravoltas que, até pra quem está acostumado com o gênero, são bacanas, além de ter uma cena final muito boa.
Assim como 99% dos filmes de terror ele peca por aqueles detalhes tosquissimos. Lembra aquela cena que o protagonista consegue desmaiar o vilão, mas não o mata, deixando-o lá pra tirar uma sonequinha e voltar pra perseguição logo depois? Então, temos algumas coisas do tipo.
Resumindo: Redd Inc. é um filme que vale a pena dar uma conferida, você vai ver coisas que já viu em diversos outros filmes, porem de uma maneira diferente e bem executada.
E lembre-se de trabalhar direitinho, vai que seu chefe é um psicopata e você não sabe...

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