Tire sua calça boca de sino do
armário, coloque suas botas mais estilosas, prenda os suspensórios sobre a sua
camiseta verde limão e não se esqueça do chapéu de cowboy. Vá até o QG da sua
gangue, afie suas facas e se prepare para a briga. Hoje atravessaremos o
território inimigo. Nunca e em hipótese nenhuma, abandone seu grupo ou desonre
sua família.
“Nesse mundo, é melhor secar suas lagrimas antes
delas deixarem seus olhos, e engolir os
sons amedrontados que emitira há pouco, pois
serviam apenas para acabar com você”
Após o imprevisto em uma
reunião que contava com as principais gangues de Nova York, Os Dominadores, uma
gangue de adolescentes de Coney Island, precisam voltar para o seu território,
mas para isso eles precisam fugir da policia e conseguir passar pelo território
hostil das gangues rivais.
Violência,
rebeldia e uma viagem de metrô
O filme The Warriors
é um clássico que merece resenha aqui no Café, entretanto, nessa
resenha focarei apenas no livro, tendo em vista que são mídias diferentes e
também possuem propostas diferentes.
A história de “Os selvagens da
noite” ocorre em apenas uma única noite, e isso é interessante porque em uma
história que ocorre em um espaço de tempo de 12 horas mais ou menos, Sol Yurick
consegue fazer uma reflexão sobre a juventude e os problemas sociais que as
afetam.
As brigas, as disputas
por território, as roupas da gangue e a violência são apenas um pano de fundo
para que o autor discuta um problema social muito mais grave. No livro, o autor
trabalha diversos personagens diferentes mas que compartilham de um problema em
comum: os adultos... ou a falta deles.
O livro inicia com um jovem, líder
de uma gangue, marcando uma reunião com outras gangues para sugerir a proposta
de união entre elas, para lutar contra o inimigo em comum, que seria a
sociedade. Mesmo as gangues tendo as suas diferenças e elas sendo rivais umas
das outras, muitas delas se mostravam dispostas a abraçar essa “trégua” porque
existe um inimigo maior, que, se não fosse enfrentado, causaria problemas para
todas elas.
Entretanto a reunião não sai como o
esperado e acaba rolando um tiroteio, dando o gancho pra o desenrolar do resto
da história, na qual a gangue protagonista tem que retornar para o seu
território, mas pra isso ela precisa fugir da policia e dos outros grupos.
A historia mesmo acontece a partir
desse evento, mas esses capítulos iniciais carregam praticamente toda a
essência do livro, o que vem após é apenas o desenvolvimento do que já foi dado
e entretenimento.
*
A confusão na reunião das gangues se
inicia devido à discussão de grupos rivais, gerando algumas brigas, entretanto
a coisa fica preta mesmo quando chega a policia, ou seja, a autoridade.
Os jovens que vemos no livro não são
jovens que desfrutam da juventude e das maravilhas da infância, pelo contrario,
são pessoas que já nasceram no meio de conflitos e problemas, e que tudo aquilo
que tentam impôr a eles não faz sentido dentro de suas respectivas realidades.
Órfãos ou pertencentesà famílias
problemáticas, à eles falta de oportunidades e perspectiva de vida, o que causa
dificuldade de comunicação, sentimentos de inferioridade, noções distorcida de
sociedade, entre outros problemas. Apesar da pouca idade, são pessoas que foram
obrigadas a “envelhecerem” antes do tempo. Não digo envelhecer no sentido de
que eles se tornaram responsáveis e que com 14 anos já são maduros pra tocar a
vida sozinhos, eles são crianças e são bem imaturas, conforme o decorrer do
texto vai nos mostrar, entretanto eles precisam buscar sobreviver sem a
dependência de um adulto.
Todo o problema dos jovens do livro
se resumem a partir disso, porque gera um conflito. O meio em que eles vivem
não dá o suporte suficiente para que eles cresçam “saudavelmente”, tendo
qualidade de vida, educação, entretenimento, etc. Logo, devido as condições,
eles precisam, de algum modo buscar as coisas por conta própria sem poder
contar com os adultos.
Como sobreviver em um cenário em que
a sociedade exige que eu seja adulto, sem me dar suporte, sendo que quando me
comporto como adulto eles me tratam como criança?
Apesar dos protagonistas serem
crianças, o livro tem cenas que incomodam e que mostram que a pouca idade não
significa que os seus crimes são menores, contudo, o autor desenvolve essas
ações dos personagens de modo que fique perceptível o “grito de socorro”, como
se aquilo que os jovens fizessem fosse uma reação de algo que está além deles.
A inconsequência dos crimes é clara: eles parecem não perceber e compreender
suas ações, eles apenas fazem, tanto que, algumas cenas de violência são
intercaladas com cenas deles fazendo besteiras e se comportando de maneira
infantil.
A
edição
Assim como a grande
maioria das publicações da Darkside books, o livro é bem trabalhado e com um
acabamento primoroso. A capa dura tem aspecto de couro desgastado e o simbolo
da gangue no centro da capa com “Warriors” escrito em cima passa a ideia de um
patch costurado no colete dos jovens. A fonte e a diagramação são simples mas
boas e as paginas são amareladas.
Não há ilustrações mas no fim de
cada parte há paginas pretas com o mapa do metro para separar uma da outra.
Livro contem três extras, duas introduções escritas por pessoas diferentes
falando da importância do Warriors para eles e também um prefacio do próprio
autor no qual ele fala sobre como ele escreveu a historia e sobre a repercussão
que o livro teve.
Devo me
juntar a uma gangue e atravessar a cidade de metro?
Claro, afinal, quem nunca sonhou em
juntar os amigos e fundar uma gangue?
Mas seja uma gangue do bem, tá bom
amiguinhos? Nada de sair dando porrada por ai, se metendo com drogas ou trafico
de armas.
Warriors é um livro de 1965
sobre gangues de Nova York que ainda consegue ser bem contemporâneo e reflexivo
mesmo pra quem vive no Brasil. Não digo que temos gangues por ai vestindo suas
“fantasias” espalhafatosas, mas o retrato da juventude pode ser visto e comparado.
E, apesar de ter sua critica, também é um livro que pode ser lido como
entretenimento, a aventura dos jovens pelo metro é as vezes divertida e as
vezes revoltante, mas interessante de acompanhar e saber o desfecho.
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