Há
alguns dias a caveira veio a nossa humilde (e desagradável) residência
para tomar um Café e beliscar umas Tripas. Percebendo que partilhamos
do mesmo amor por tudo aquilo que é sujo, feio e sangrento, ela nos ofereceu
parceria com a editora mais trevosa do mercado. Isso mesmo seguidores deste
humilde bloguinho que nunca teve pretensão em conseguir parceria nem com as
piores casas funerárias do ramo, agora somos parceiros da Darkside Books,
juntos vamos espalhar o horror e esfregar sangue e nojeiras na cara da família tradicional
brasileira.
Para
marcar o inicio dessa parceria, o Café vai trazer de volta um
personagem que já passou por aqui. Não teremos tanto sangue na resenha de hoje,
mas um herói que no passado andava com um “bat-repelente de tubarão” merece um
lugarzinho eterno em nossos corações. Isso mesmo caros leitores, hoje voltaremos
para Gothan, porque o Bat-sinal nos aguarda.
“Mais
do que nunca, Crane estava obcecado pela natureza do medo e de como levar os
homens sãos a cometer de bom grado atos que nem os mais insanos poderiam
conceber. Seus experimentos provaram que todos os homens tinham pensamentos
sombrios, mas que, ao longo dos milênios, eles aprenderam a controlá-los.
Homens
“civilizados” tinham, aparentemente, descartado seus primórdios selvagens e,
assim, a humanidade tolerava aqueles que eram incapazes de sair do lamaçal. O
homem recebera instintos selvagens por uma razão. Na natureza, somente o mais
forte sobrevivia. O mais poderoso sempre se banqueteia do mais fraco. Aqueles
que cediam ao medo tinham de servir aos que o experimentavam na completude e
depois ascendiam, só colocando acima dele.
Os
fracos se aproveitavam dos mais fortes, sugando-os para dentro do abismo. A
humanidade tinha de se livrar das algemas que arrastavam para as profundezas
antes que fosse tarde demais.
E
agora, a toxina do medo resolveria tudo.”
Titulo original:
Batman – Arkham Knight
Autor: Marv Wolfman
Ano: 2015
Editora: Darkside Books
Paginas: 272
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Após
a morte do Coringa, Gothan consegue voltar pra sua rotina e vive uma relativa tranqüilidade.
O caos retorna quando Jonathan Crane, o Espantalho, ameaça a espalhar o gás do
medo em toda a cidade, uma substancia capaz de levar todos aqueles que inalarem
a completa loucura, fazendo com que cada indivíduo seja atormentado com seu
maior medo. Ao anunciar seu plano, os moradores são aconselhados a evacuar a
cidade, gerando desordem. Paralelamente a isso, os policiais (que restaram)
precisam lidar com a confusão dos cidadãos tentando sair da cidade e Batman vai
atrás do vilão para impedir que Gothan seja destruída.
Não
bastando todo o problema causado por Crane, Batman também terá que lidar com
diversos outros contratempos que vão surgindo ao longo da história. Apesar do
Coringa estar morto, antes de sua morte ele introduziu seu sangue em algumas
pessoas, incluindo o Batman. Isso faz com que o homem morcego esteja em um
constante conflito interno, para manter a sanidade e não deixar que o sangue do
palhaço interfira em sua ações. E também há aquele que nomeia o livro, o Arkham
Knight, um vilão com uma roupa semelhante a do herói e que conhece todos os
seus segredos, mas de origem e identidade desconhecida. Aliado do Espantalho,
ele vai entrar no caminho do morcego para atrasar seus planos enquanto o gás do
medo está cada vez mais próximo de dominar a cidade.
Batalha mental
Aliás,
sobre essa questão psicológica, o conflito interno do Batman é uma das
características que mais dá poder à historia, deixando-a ainda mais
interessante por fazer com que o personagem tenha que lidar com uma batalha
interna ao mesmo tempo em que precisa lutar para salvar a cidade. Na historia,
apesar da sua disposição e da sua maturidade no papel de herói, o morcego está
fragilizado. Com o sangue do Coringa em suas veias, o veneno do Espantalho e os
problemas ao seu redor, todos os sentimentos se afloram, fazendo com que ele
viva no limite, controlando todos os seus passos para não ir além dos valores
morais que ele defendeu toda a vida. Isso mostra que, mesmo morto, o Coringa
ainda tem grande poder, e suas ações ainda assombram o cavaleiro das trevas. O
gás de Crane vai servir pra potencializar todos os medos e mostrar para o
Batman que algumas coisas não foram superadas.
Batman em livro?
Por
um lado, por ser uma historia do homem morcego em prosa, e não em quadrinhos,
como a maioria das pessoas estão acostumadas, o autor consegue trabalhar melhor
algumas questões que não são tão desenvolvidas nos quadrinhos, como o aspecto
psicológico dos personagens, que aqui tem mais profundidade, sendo possível
desenvolver linhas de pensamentos, conflitos internos e digressões que as vezes
são limitados pelos balõezinhos. Por outro lado, talvez pelo costume com os
quadrinhos, existem momentos em que a leitura seria mais interessante se fosse
em formato de HQ, principalmente nas partes de luta, que exigem uma melhor
visualização da cena já que o Batman é um herói mais furtivo e se prende muito
a configuração do cenário para traçar seus movimentos. Mesmo bem descrito, é
algo que funciona melhor no outro formato (pelo menos pra mim).
Bat-veredito
Batman
Arkhan Knight é uma historia que é composta de muitas camadas, boa parte
dos personagens conhecidos aparecem ou são citados ao longo da narrativa. Em um
primeiro momento causa certa estranheza ver tantos personagens aparecendo,
dando impressão que a historia vai ser uma bagunça, mas o autor consegue
trabalhar para que (quase) todos tenham sua importância e não estejam ali
gratuitamente. Mesmo com varias subtramas, todas estão relacionadas com a
principal e conseguem se manter até o fim.
Marv
Wolfman conseguiu adaptar a historia de maneira que conseguisse agradar tanto
os fãs do morcegão quanto aquelas pessoas que não conhecem muito da história e
dos acontecimentos passados, mas se interessam pelo herói. Mesmo com muitos
personagens já conhecidos, o autor, sem enrolação, consegue apresentá-los e
situar o leitor leigo na história, dando um panorama geral sobre os personagens
e acontecimentos importantes dos quadrinhos, desde informações sobre os Robins
e Batgirl, vilões como Hera e Pinguin, até informações do funcionamento de
Gothan.
A
edição da Darkside é minimalista, mas bem elegante. O livro é em capa dura e trabalhado
em uma espécie de tecido que dá uma textura bem diferente. Toda a parte externa
do livro é preta e lisa, inclusive o corte. Os únicos detalhes são o logo do Batman
em baixo relevo na capa e o titulo, também em baixo relevo, na lombada.
Internamente o livro segue os padrões da editora, com o diferencial de ter
pequenos morcegos nas quebras do texto, mas sem imagens ou extras.
Enfim, Arkham Knight é
um livro recomendado pra qualquer um que se interesse por Batman, além de ser
uma ótima dica pra quem se interessa pelo herói mas não sabe por onde começar.
Mesmo com muitas tramas e muita informação é um livro fluido que consegue
manter o leitor atento, sem perder de vista o morcego que se movimenta
furtivamente pelas ruas de Gothan.
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