terça-feira, 26 de abril de 2016

Literatura: Batman - Arkham Knight (Marv Wolfman)


            Há alguns dias a caveira veio a nossa humilde (e desagradável) residência para tomar um Café e beliscar umas Tripas. Percebendo que partilhamos do mesmo amor por tudo aquilo que é sujo, feio e sangrento, ela nos ofereceu parceria com a editora mais trevosa do mercado. Isso mesmo seguidores deste humilde bloguinho que nunca teve pretensão em conseguir parceria nem com as piores casas funerárias do ramo, agora somos parceiros da Darkside Books, juntos vamos espalhar o horror e esfregar sangue e nojeiras na cara da família tradicional brasileira.
            Para marcar o inicio dessa parceria, o Café vai trazer de volta um personagem que já passou por aqui. Não teremos tanto sangue na resenha de hoje, mas um herói que no passado andava com um “bat-repelente de tubarão” merece um lugarzinho eterno em nossos corações. Isso mesmo caros leitores, hoje voltaremos para Gothan, porque o Bat-sinal nos aguarda.


            “Mais do que nunca, Crane estava obcecado pela natureza do medo e de como levar os homens sãos a cometer de bom grado atos que nem os mais insanos poderiam conceber. Seus experimentos provaram que todos os homens tinham pensamentos sombrios, mas que, ao longo dos milênios, eles aprenderam a controlá-los.
            Homens “civilizados” tinham, aparentemente, descartado seus primórdios selvagens e, assim, a humanidade tolerava aqueles que eram incapazes de sair do lamaçal. O homem recebera instintos selvagens por uma razão. Na natureza, somente o mais forte sobrevivia. O mais poderoso sempre se banqueteia do mais fraco. Aqueles que cediam ao medo tinham de servir aos que o experimentavam na completude e depois ascendiam, só colocando acima dele.
            Os fracos se aproveitavam dos mais fortes, sugando-os para dentro do abismo. A humanidade tinha de se livrar das algemas que arrastavam para as profundezas antes que fosse tarde demais.
            E agora, a toxina do medo resolveria tudo.”


Titulo original: Batman – Arkham Knight
Autor: Marv Wolfman
Ano: 2015
Editora: Darkside Books
Paginas: 272
            Após a morte do Coringa, Gothan consegue voltar pra sua rotina e vive uma relativa tranqüilidade. O caos retorna quando Jonathan Crane, o Espantalho, ameaça a espalhar o gás do medo em toda a cidade, uma substancia capaz de levar todos aqueles que inalarem a completa loucura, fazendo com que cada indivíduo seja atormentado com seu maior medo. Ao anunciar seu plano, os moradores são aconselhados a evacuar a cidade, gerando desordem. Paralelamente a isso, os policiais (que restaram) precisam lidar com a confusão dos cidadãos tentando sair da cidade e Batman vai atrás do vilão para impedir que Gothan seja destruída.
            Não bastando todo o problema causado por Crane, Batman também terá que lidar com diversos outros contratempos que vão surgindo ao longo da história. Apesar do Coringa estar morto, antes de sua morte ele introduziu seu sangue em algumas pessoas, incluindo o Batman. Isso faz com que o homem morcego esteja em um constante conflito interno, para manter a sanidade e não deixar que o sangue do palhaço interfira em sua ações. E também há aquele que nomeia o livro, o Arkham Knight, um vilão com uma roupa semelhante a do herói e que conhece todos os seus segredos, mas de origem e identidade desconhecida. Aliado do Espantalho, ele vai entrar no caminho do morcego para atrasar seus planos enquanto o gás do medo está cada vez mais próximo de dominar a cidade.

Batalha mental

            Aliás, sobre essa questão psicológica, o conflito interno do Batman é uma das características que mais dá poder à historia, deixando-a ainda mais interessante por fazer com que o personagem tenha que lidar com uma batalha interna ao mesmo tempo em que precisa lutar para salvar a cidade. Na historia, apesar da sua disposição e da sua maturidade no papel de herói, o morcego está fragilizado. Com o sangue do Coringa em suas veias, o veneno do Espantalho e os problemas ao seu redor, todos os sentimentos se afloram, fazendo com que ele viva no limite, controlando todos os seus passos para não ir além dos valores morais que ele defendeu toda a vida. Isso mostra que, mesmo morto, o Coringa ainda tem grande poder, e suas ações ainda assombram o cavaleiro das trevas. O gás de Crane vai servir pra potencializar todos os medos e mostrar para o Batman que algumas coisas não foram superadas.

Batman em livro?

            Por um lado, por ser uma historia do homem morcego em prosa, e não em quadrinhos, como a maioria das pessoas estão acostumadas, o autor consegue trabalhar melhor algumas questões que não são tão desenvolvidas nos quadrinhos, como o aspecto psicológico dos personagens, que aqui tem mais profundidade, sendo possível desenvolver linhas de pensamentos, conflitos internos e digressões que as vezes são limitados pelos balõezinhos. Por outro lado, talvez pelo costume com os quadrinhos, existem momentos em que a leitura seria mais interessante se fosse em formato de HQ, principalmente nas partes de luta, que exigem uma melhor visualização da cena já que o Batman é um herói mais furtivo e se prende muito a configuração do cenário para traçar seus movimentos. Mesmo bem descrito, é algo que funciona melhor no outro formato (pelo menos pra mim).

Bat-veredito

            Batman Arkhan Knight é uma historia que é composta de muitas camadas, boa parte dos personagens conhecidos aparecem ou são citados ao longo da narrativa. Em um primeiro momento causa certa estranheza ver tantos personagens aparecendo, dando impressão que a historia vai ser uma bagunça, mas o autor consegue trabalhar para que (quase) todos tenham sua importância e não estejam ali gratuitamente. Mesmo com varias subtramas, todas estão relacionadas com a principal e conseguem se manter até o fim.
            Marv Wolfman conseguiu adaptar a historia de maneira que conseguisse agradar tanto os fãs do morcegão quanto aquelas pessoas que não conhecem muito da história e dos acontecimentos passados, mas se interessam pelo herói. Mesmo com muitos personagens já conhecidos, o autor, sem enrolação, consegue apresentá-los e situar o leitor leigo na história, dando um panorama geral sobre os personagens e acontecimentos importantes dos quadrinhos, desde informações sobre os Robins e Batgirl, vilões como Hera e Pinguin, até informações do funcionamento de Gothan.
            A edição da Darkside é minimalista, mas bem elegante. O livro é em capa dura e trabalhado em uma espécie de tecido que dá uma textura bem diferente. Toda a parte externa do livro é preta e lisa, inclusive o corte. Os únicos detalhes são o logo do Batman em baixo relevo na capa e o titulo, também em baixo relevo, na lombada. Internamente o livro segue os padrões da editora, com o diferencial de ter pequenos morcegos nas quebras do texto, mas sem imagens ou extras.  
Enfim, Arkham Knight é um livro recomendado pra qualquer um que se interesse por Batman, além de ser uma ótima dica pra quem se interessa pelo herói mas não sabe por onde começar. Mesmo com muitas tramas e muita informação é um livro fluido que consegue manter o leitor atento, sem perder de vista o morcego que se movimenta furtivamente pelas ruas de Gothan. 

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