quinta-feira, 5 de maio de 2016

Literatura: Guerra do velho (John Scalzi)

            
Como você imagina sua velhice? Rodeado/a de netinhos contando historias de sua época? Uma vida longe de pessoas mas em uma casa cheia de gatos? Talvez em uma vida tranquila no interior onde você pode reclamar a vontade da cidade grande enquanto respira um pouco de ar fresco? Ou você sabe que, com os excessos de sua juventude, dificilmente terá uma vida no futuro?
        Independente da resposta, eu duvido que você tenha pensado em se alistar no exercito...



            “Esse é um dos motivos pelos quais a FCD selecionam idosos para se tornarem soldados. Não é porque vocês todos estão aposentados e são um peso para a economia. É também porque vocês viveram o bastante para saber que há mais na vida do que a própria vida. A maioria de vocês criou famílias, teve filhos, netos, e entende o valor de fazer algo além de seus objetivos egoístas. Mesmo se nunca se tornarem colonos, ainda vão reconhecer que as colônias humanas são boas para a raça humana, algo pelo qual vale a pena lutar. É difícil enfiar esse conceito na cabeça de alguém com 19 anos. Mas vocês são experientes. Neste universo, o que conta é a experiência.



Titulo original: Old man's war
Autor: John Scalzi
Ano: 2005
Editora: Aleph
Paginas: 368
            John Perry é um senhor viúvo que, no dia do seu aniversario de 75 anos, se alista no exercito da Força Colonial de Defesa (FCD). Mesmo sabendo pouco sobre a organização pelo fato da FCD operar de maneira independente e não ter contato direto com a Terra, Perry já escutou falar que os soldados, de alguma forma, passam por um processo de rejuvenescimento, podendo aumentar a expectativa de vida. Sem nada a perder, ele entra no exercito para proteger as colônias humanas dos alienígenas.

Entre humanos e alienígenas

            A história se passa no futuro, mas, pelo pouco do que é apresentado sobre a Terra, não há muitas diferenças quanto a esse futuro e o nosso presente, com exceção de um meio de transporte que leva os recém alistados para a base da FCD no espaço.
            Fora da Terra, no entanto, tudo é diferente. Os humanos conseguiram encontrar outros planetas habitáveis e colonizá-los, com isso, acabamos incomodando raças alienígenas, seja aquelas que já habitavam os planetas antes ou aquelas que também estavam procurando novas áreas para colonizar, gerando diversas guerras.
            Pouca coisa se sabe além disso, porque os soldados são proibidos de voltar para o seu planeta, impedindo o contato e a troca de mensagens. Do mesmo modo que a única informação sobre o alistamento é que as pessoas precisam ter 75 anos, não sabem nem o porquê nem como irão lutar.

Guerra, colonialismo e o outro

            Narrado em primeira pessoa, John Perry começa contando do seu alistamento e passa pelas diversas fases e situações que vivenciou no exercito da FCD, desde o treinamento e do grupo de amigos que ele fez, até guerras contra alienígenas. Mais ainda, o protagonista, em diversos momentos, também vai retomar lembranças da sua vida antes de sair da Terra, principalmente sobre sua mulher.
            Ao longo da narrativa, Scalzi consegue levantar e discutir temas diversos que permanecem na cabeça do leitor durante toda a trama, sem apelar para discussões teóricas. Muitas ações da FCD se mostram duvidosas, então os personagens, que já tiveram uma longa vida na Terra, questionam muitos desses princípios.
            Apesar de tudo se passar em um mundo futurista, muitas das criticas levantadas são aplicadas ao nosso presente. Pode-se fazer uma relação direta entre a colonização espacial e a terrestre, refletindo desde que a questão religiosa que as pessoas usam de desculpa para atacar o outro até a banalização da violência, em que as pessoas apenas matam sem pensar na condição do outro, sem levar em consideração a vida que estão tirando. Além disso o autor também discute questões morais relacionados a extensão da vida, o uso de matérias de gente morta, até mesmo identidade e os fatores que nos tornam humanos. 
            Em tempo, outro ponto que merece ser citado, é que o autor também consegue criar cenas de ação bem interessantes. Apesar de não ter tantas descrições e o ambiente de guerra ser criado a partir de poucos elementos, o leitor consegue imaginar todo o cenário mesmo ele não sendo detalhado em palavras. Assim como o universo criado que apresenta tanto situações bizarras, como também desperta curiosidade por mais detalhes por aquele mundo criado por Scalzi.

Aliste-se

            Unindo o melhor da ficção cientifica, Guerra do velho consegue desenvolver tanto questões sociais e filosóficas quanto guerras entre humanos e outras raças, tudo de maneira equilibrada e muito bem desenvolvida. Apesar do livro ter um defeito ou outro, como o fato dos personagens não convencerem o leitor de sua idade, as muitas qualidades do livro ofuscam qualquer outra questão. Guerra do Velho, apesar de não ser totalmente original, buscando inspiração em obras anteriores do gênero, é uma grande homenagem a ficção cientifica misturando tudo que ela tem de melhor.
            Scalzi entrega uma historia empolgante, cômica e cheia de conteúdo. 

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