Hoje
o Café
com Tripas sai da realidade e vai para o mundo onírico bater um
papo com o responsável por todos aqueles sonhos bizarros que temos – ir pelado
pra escola, cair de um lugar desconhecido, ser perseguido por um dinossauro, fazer
lascividades com seus amiguinhos/as, lutar ou ser morto pelo Freddy
Krueger, enfim... – isso mesmo, estamos falando daquele que tem vários nomes:
Sonho, Morpheus, Sandman...
Feche
os olhos e venha tomar um Café no império do sonhar.
“Lúcifer:
Com ou sem elmo, você não tem poder aqui. Que poder tem os sonhos no inferno?
Sandman:
Você afirma que não tenho poder? Talvez seja verdade… Mas… também diz que
sonhos não tem poder aqui? Diga-me, Lúcifer Estrela da Manhã… Indague-se… Na
verdade, indaguem-se todos vocês… Que poder o inferno teria se aqueles aqui
confinados não fossem capazes de sonhar com o Paraíso?”
Titulo original: Sandman
– Preludes & Nocturnes (1-8)
Autor: Neil Gaiman
Ano: 1989
Lido em: Sandman – Edição definitiva #1
Editora: Panini (Dc Comics)
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Roderick
Burguess é um bruxo que, após conseguir reunir todos os artefatos necessários,
inicia um ritual para a invocação da Morte, com o intuito de aprisioná-la e ter
total controle sobre suas ações. Mas algo sai errado e ele acaba invocando e
aprisionando seu irmão, o Sonho. O confinamento faz com que o mundo dos sonhos
começasse a ruir, levando diversas pessoas ao redor do mundo a pegar a doença
do sono. Essa prisão dura cerca de 70 anos, quando consegue se libertar ele
percebe que os seus amuletos, utilizados para gerir o mundo dos sonhos, foram
roubados. Isso faz com que Sonho comece uma busca pelas suas ferramentas.
O mundo dos sonhos
Em
Sandman, vamos acompanhar o Sonho (ou Sandman, ou Morfeus…), ele é o
perpétuo responsável pelo reino do sonhar, sendo assim, neste primeiro arco
composto pelas primeiras 8 edições, teremos um foco maior na apresentação do
personagem e no desenvolvimento de uma trama capaz de mostrar o personagem em
ação ao mesmo tempo em que cria estruturas para futuras historias. Neste arco
temos uma história relativamente simples e sem grandes surpresas, o sonho indo
atrás de seus instrumentos, mas a simplicidade da historia é recompensada pelo
desenvolvimento e complexidade desse universo criado pelo Gaiman.
Durante
a jornada do Sonho atrás de seus artefatos, ele passará por diversos lugares e
personagens que muitos já conhecem: Inferno, Asilo Arkham, John Constantine,
liga da justiça, entre outros. A história mostra diversas faces do personagem,
pois, mesmo sendo a personificação de algo abstrato, o Sonho se mostra como um
ser que, assim como os humanos, compartilha dessas características mundanas,
como raiva, tristeza, solidão, entre outros que acabam sendo o ponto alto do
quadrinho, pelo menos nessas primeiras edições.
Gaiman
cria um universo que se apropria do conteúdo de diversas fontes, como religião,
mitologia e coisas assim, criando a partir disso algo original e brincando com
essas coisas a partir de detalhes que ele coloca na história, que, caso vocês
não fiquem atentos, podem até passar despercebido para alguns leitores.
Entre o sonhar e a realidade
Ao
meu ver, a trama central desse primeiro arco é a importância do sonho na vida
das pessoas, tanto que será um tema recorrente em quase todas as histórias
dessa primeira parte. A primeira delas já começa com o protagonista sendo
aprisionado no ano de 1916, durante metade da primeira guerra mundial, sendo
que ele só será liberto no fim dos anos 80.
Tematicamente,
a prisão do Sonho funciona como uma forma de justificar todas as desgraças que
ocorreram no século XX, transformando-o num período de desesperança devido a
série de acontecimentos que o assolaram: 1a GM, Quebra da bolsa, 2a
GM, Guerra fria, Guerra do Vietnan, Ditaduras, etc. No período entre a prisão e
a liberdade do Sonho, alguns personagens
serão apresentados para mostrar as conseqüência dessa prisão, bem como a
sua libertação também repercutirá na vida dessas e de outras pessoas.
Além
disso, em cada edição em que Sandman vai atrás de suas ferramentas, percebemos
uma característica do sonho, que mesmo sendo apresentado de maneira surreal e
fantástica nos quadrinhos, pode ser facilmente interpretada e aplicada na realidade.
Por
exemplo: quando ele vai atrás da algibeira vemos uma personagem que fica
viciada em sonhar, e isso faz com que ela acabe presa em seu próprio mundo e
esqueça da realidade. No inferno, por
sua vez, o sonho acaba tendo uma função ambígua, pois assim como pode nutrir a
esperança dos condenados, ele também pode servir como um instrumento de
manutenção do sofrimento ao especular um sonho inatingível que os impeçam de
aceitar sua condição. Por fim,vemos também a historia do Dr. Destino que
manipula as pessoas a partir dos seus sonhos, levando as mesmas a cometerem
atos inesperados. Esses são apenas alguns exemplos de como o sonho se manifesta
de maneiras diferentes ao longo da história. O mais interessante a respeito
disso é perceber as mudanças que essas temáticas geram na
própria arte da HQ que, apesar de seguir um padrão de desenho, vez ou outra é
quebrada de acordo com os acontecimentos. De igual modo, a aparência do próprio
Sandman pode ser vista de maneiras diferentes de acordo com os personagens, uma
vez que o sonho é abstrato e passível de interpretação.
Devemos sonhar?
Preludios
e Noturnos é a historia que abre a longa história do Sonho. A primeira
vista, ela pode parecer bem simples: temos um personagem que vai em busca de
objetos perdidos. No entanto, a partir do momento que paramos para para
refletir sobre a narrativa, as imagens e os personagens, tudo começa a tomar
forma e construir um mundo único e complexo. Um exemplo disso é a ultima historia
desse arco, na qual o Sonho encontra a sua irmã, a Morte, e levanta uma serie
de reflexões bacanas de uma maneira humorada. Ali Neil Gaiman consegue brincar
com temas sérios sem grandes textos teóricos, apenas usando imagens e pequenos
balões de texto.
Apesar
de tudo, mesmo sendo bom, o primeiro arco me deixou a sensação de que algo está
faltando, contudo, por ser uma introdução ao universo e ao personagem é
totalmente compreensível que Prelúdios e Noturno seja assim.
Resumindo:
Sandman é um quadrinho obrigatório, até mesmo pra quem não se interessa muito
por HQs. Leia. Sonhe.
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