Se você está nesse blog é porque você já passeou
pelos lugares mais sujos dessa terra e, conseqüentemente, viu muitas coisas que
preferiria nunca ter visto na vida: coisas que te assustaram, que te
perturbaram, que não te deixaram dormir a noite, que te fizeram sentir nojo,
enfim, coisas que causaram reações diversas. Apesar disso, todas essas visões
não passaram de experiências, boas ou ruins.
Agora imagina ver algo que acabaria com a sua
sanidade? O que seria tão perturbador de se ver que faria você atacar as
pessoas do seu lado e se matar logo depois? Existe alguma visão tão
perturbadora assim?
“Ninguém tem
respostas. Ninguém sabe o que está acontecendo. As pessoas estão vendo alguma
coisa que as leva a machucar os outros. A machucar a si mesmas”
Titulo original: Bird Box
Autor: Josh Malerman
Ano: 2014
Editora: Intrínseca
Paginas: 268
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Repentinamente, na Rússia, algumas pessoas
começam a ter atitudes estranhas: elas ficam agressivas a ponto de atacar quem
estiver por perto e até mesmo se matam. Casos desse tipo começam a se tornar
mais freqüentes e o surto se espalha chegando aos EUA.
Tudo leva a crer que as pessoas começam a se
comportar de modo estranho após ver algo e, em função disso, passam a cobrir
todas as janelas de suas casas e se trancar, sem ousar olhar para além das
janelas. Existe algo lá fora que não pode ser visto, a falta de visão se torna o
maior aliado.
Cerca de cinco anos depois desse surto, Malorie
precisa sair de casa com seus dois filhos e fazer uma viagem, entretanto o
mundo lá fora é hostil e ela precisa fazer tudo de olhos fechados, contando
apenas com a audição de seus filhos.
Apocalipse cego
A historia é contada a partir de dois momentos
temporais diferentes, o presente, em que Malorie decide sair de casa e
enfrentar uma viagem com seus filhos, e o passado, que nos é contado, desde o
inicio do problema, como a protagonista sobreviveu e como ela se virou para
permanecer viva por mais de quatro anos sem olhar pro lado de fora da casa.
Essa breve sinopse é o suficiente pra
entendermos a historia do livro e iniciarmos uma discussão a respeito dele.
Caixa de pássaros é um livro que desde o começo
me prendeu e me deixava curioso pra saber o que iria acontecer, tanto que li
bem rápido. Mas desde o primeiro capitulo algo me dizia que a chance de o autor
perder a mão do roteiro era muito alta, porque quase tudo que já vi no mesmo
estilo desandou em algum momento.
Eu gostei muito da premissa, ele lembra diversas
outras coisas, mas mesmo assim consegue ter uma ideia nova. O fato de olhar pra
algo que seja incompreensível pra mente humana e a pessoa enlouquecer é bem
interessante, sem contar o fato de como sobreviver sem poder abrir os olhos do
lado de fora de casa, etc. Mas tudo no livro acaba ficando na superficialidade
e nada é bem desenvolvido.
O livro passa a impressão de que o autor teve
uma boa ideia e acabou criando uma historia qualquer só pra encaixá-la. O
desenvolvimento está repleto de saídas convenientes, ou seja, ele foi pelo
caminho mais fácil, não se preocupou em desenvolver suas idéias, seja em
relação a historia, seja em relação aos personagens.
Por exemplo, na parte do passado, Malorie divide
a casa com alguma pessoas, mas ainda que tenham bastante participação na
história, boa parte delas são indiscerníveis, com traços de personalidade não
desenvolvidos. Um ou outro são mais importantes e você consegue identificar,
mas mesmo assim são personagens que seriam melhores se bem desenvolvidos.
Outro exemplo: nas situações em que eles
precisam sair de casa com os olhos vendados, tudo parece, de certo modo,
simples. Sim, até existe certa tensão, mas tudo se resolve muito facilmente e
você não percebe uma real dificuldade em lidar com aquilo.
Por fim, a própria questão da coisa que é vista
e enlouquece as pessoas é também problemática. Certas historias, tanto em
livros quanto no cinema, pedem que a história e os questionamentos sejam
deixados em aberto. Nem sempre o roteiro precisa explicar o que está
acontecendo, o que é aquilo, ou qualquer coisa. Entretanto essa é uma saída
perigosa, pois a partir do momento que algo fica em aberto, é necessário que o
resto seja desenvolvido de modo que aquilo perca a relevância e que a narrativa
se sobressaia aos questionamentos não respondidos. Isso não acontece aqui.
O livro tem uma ideia boa e uma leitura fluida,
mas acaba se perdendo em vários pontos, deixando a sensação de poderia ser
melhor.
Devo abrir os olhos?
Não, pode ficar de olhos fechados, quando tiver
algo que valha a pena olhar nós avisamos para tirar as vendas.
Apesar de ser um livro que entretêm e que possui
uma leitura fluida, ele peca pela superficialidade e pela falta de uma tensão
digna daquela que a história pede. Entretanto, vejo muito mais gente elogiando
ele do que criticando, então sinta-se livre a ir atrás daquilo que seu lindo e
fofo coração mandar... mas não diga que não avisei.
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