quinta-feira, 7 de julho de 2016

Literatura: Caixa de pássaros (Josh Malerman)


Se você está nesse blog é porque você já passeou pelos lugares mais sujos dessa terra e, conseqüentemente, viu muitas coisas que preferiria nunca ter visto na vida: coisas que te assustaram, que te perturbaram, que não te deixaram dormir a noite, que te fizeram sentir nojo, enfim, coisas que causaram reações diversas. Apesar disso, todas essas visões não passaram de experiências, boas ou ruins.
Agora imagina ver algo que acabaria com a sua sanidade? O que seria tão perturbador de se ver que faria você atacar as pessoas do seu lado e se matar logo depois? Existe alguma visão tão perturbadora assim?



“Ninguém tem respostas. Ninguém sabe o que está acontecendo. As pessoas estão vendo alguma coisa que as leva a machucar os outros. A machucar a si mesmas”

Titulo original: Bird Box
Autor: Josh Malerman
Ano: 2014
Editora: Intrínseca
Paginas: 268
Repentinamente, na Rússia, algumas pessoas começam a ter atitudes estranhas: elas ficam agressivas a ponto de atacar quem estiver por perto e até mesmo se matam. Casos desse tipo começam a se tornar mais freqüentes e o surto se espalha chegando aos EUA.
Tudo leva a crer que as pessoas começam a se comportar de modo estranho após ver algo e, em função disso, passam a cobrir todas as janelas de suas casas e se trancar, sem ousar olhar para além das janelas. Existe algo lá fora que não pode ser visto, a falta de visão se torna o maior aliado.
Cerca de cinco anos depois desse surto, Malorie precisa sair de casa com seus dois filhos e fazer uma viagem, entretanto o mundo lá fora é hostil e ela precisa fazer tudo de olhos fechados, contando apenas com a audição de seus filhos.

Apocalipse cego

A historia é contada a partir de dois momentos temporais diferentes, o presente, em que Malorie decide sair de casa e enfrentar uma viagem com seus filhos, e o passado, que nos é contado, desde o inicio do problema, como a protagonista sobreviveu e como ela se virou para permanecer viva por mais de quatro anos sem olhar pro lado de fora da casa.
Essa breve sinopse é o suficiente pra entendermos a historia do livro e iniciarmos uma discussão a respeito dele.
Caixa de pássaros é um livro que desde o começo me prendeu e me deixava curioso pra saber o que iria acontecer, tanto que li bem rápido. Mas desde o primeiro capitulo algo me dizia que a chance de o autor perder a mão do roteiro era muito alta, porque quase tudo que já vi no mesmo estilo desandou em algum momento.
Eu gostei muito da premissa, ele lembra diversas outras coisas, mas mesmo assim consegue ter uma ideia nova. O fato de olhar pra algo que seja incompreensível pra mente humana e a pessoa enlouquecer é bem interessante, sem contar o fato de como sobreviver sem poder abrir os olhos do lado de fora de casa, etc. Mas tudo no livro acaba ficando na superficialidade e nada é bem desenvolvido.
O livro passa a impressão de que o autor teve uma boa ideia e acabou criando uma historia qualquer só pra encaixá-la. O desenvolvimento está repleto de saídas convenientes, ou seja, ele foi pelo caminho mais fácil, não se preocupou em desenvolver suas idéias, seja em relação a historia, seja em relação aos personagens.
Por exemplo, na parte do passado, Malorie divide a casa com alguma pessoas, mas ainda que tenham bastante participação na história, boa parte delas são indiscerníveis, com traços de personalidade não desenvolvidos. Um ou outro são mais importantes e você consegue identificar, mas mesmo assim são personagens que seriam melhores se bem desenvolvidos.
Outro exemplo: nas situações em que eles precisam sair de casa com os olhos vendados, tudo parece, de certo modo, simples. Sim, até existe certa tensão, mas tudo se resolve muito facilmente e você não percebe uma real dificuldade em lidar com aquilo.
Por fim, a própria questão da coisa que é vista e enlouquece as pessoas é também problemática. Certas historias, tanto em livros quanto no cinema, pedem que a história e os questionamentos sejam deixados em aberto. Nem sempre o roteiro precisa explicar o que está acontecendo, o que é aquilo, ou qualquer coisa. Entretanto essa é uma saída perigosa, pois a partir do momento que algo fica em aberto, é necessário que o resto seja desenvolvido de modo que aquilo perca a relevância e que a narrativa se sobressaia aos questionamentos não respondidos. Isso não acontece aqui.
O livro tem uma ideia boa e uma leitura fluida, mas acaba se perdendo em vários pontos, deixando a sensação de poderia ser melhor.

Devo abrir os olhos?

Não, pode ficar de olhos fechados, quando tiver algo que valha a pena olhar nós avisamos para tirar as vendas.
Apesar de ser um livro que entretêm e que possui uma leitura fluida, ele peca pela superficialidade e pela falta de uma tensão digna daquela que a história pede. Entretanto, vejo muito mais gente elogiando ele do que criticando, então sinta-se livre a ir atrás daquilo que seu lindo e fofo coração mandar... mas não diga que não avisei.

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