Você
também tem esse desejo mórbido de saber mais sobre assuntos relacionados à
morte? Adora assistir ou ler obras e matérias sobre assassinatos e mortes
misteriosas? Sempre teve curiosidade e uma certa atração por medicina legal,
mesmo não tendo coragem de se aproximar de um cadáver?
Então
se aproxime da maca porque hoje é dia de autopsia, bebê!
“Nossas conclusões afetam
mais os vivos que os mortos. Os mortos já não são objeto de preocupação, mas os
vivos podem ir para a cadeia. Vidas podem ser salvas por causa de vírus e
germes. Nossas conclusões podem provar a inocência de alguém. Perguntas podem
ser respondidas, e suspeitas validadas. Portanto, médicos-legistas carregam o
pesado fardo de chegar a conclusões cientificas, imparciais, baseadas em fatos,
a despeito do que desejam os familiares, amigos, inimigos ou vizinho do morto. A
verdade é sempre melhor do que aquilo que meramente desejamos ser verdade.”
Título original: Morgue:
A life in death
Autor: Dr. Vincent Di Maio &
Ron Franscell
Ano: 2016
Editora: Darkside books
Páginas: 281
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Vincent Di Maio é um médico-legista
bastante reconhecido no meio, que trabalhou em importantes casos, desde a
exumação do suposto assassino do presidente Kennedy, passando pela investigação
sobre um crime racial que gerou bastante polemica nos EUA ou, até mesmo,
servindo de consultor sobre uma pesquisa que tinha o objetivo de compreender
melhor a historia por trás do suicídio de Van Gogh.
Depois
de décadas trabalhando em meio a cadáveres, Di Maio conta uma pouco sobre sua
profissão e sobre alguns casos emblemáticos de sua carreira. Além de mostrar um
pouco sobre o processo de autopsia e exumação, ele também desmistifica muitas
das lendas que rondam o assunto.
Olha, ele ta ficando roxo
A
principio, O segredo dos corpos é um
livro de casos, em que a cada capitulo os autores vão se dedicar a contar sobre
um evento importante e/ou curioso vivenciado por Di Maio. Em meio a esses
episódios, o legista vai fazer uma contextualização tanto daquele caso em
especifico quanto da sua vida e da profissão, tornando o livro mais rico e
esclarecedor.
Mesmo
os casos sendo interessantes por si só, envolvendo mortes intrigantes difíceis
de explicar, o livro, pelo menos pra mim, é muito mais atrativo por todo o
contexto que é criado para tratar de cada morte em específico, não sendo apenas
um compilado de mortes curiosas como um jogo do “Dark Stories”. Sendo assim, é
como se os autores fizessem uma autopsia não apenas do morto, mas de tudo
aquilo que rodeava aquela história.
A
cada capítulo vamos ter um caso novo que os autores iniciam fazendo uma breve
recapitulação do evento com fatos evidentes, como por exemplo o caso de um bebê
que morreu com menos de um ano. Ele voltava regularmente ao hospital porque
misteriosamente parava de respirar, mas os exames não aparentavam nada de
errado e durante as observações no hospital ele permanecia saudável e nenhum
evento incomum, só quando voltava pra casa que isso ocorria. A partir disso, o
livro segue dois caminhos, o de investigação e o de legista.
A
princípio, os autores vão contextualizar o caso mostrando o passado da família,
as investigações que foram feitas para identificar o problema, como a
verificação do ar da região pra ver se o problema não estava ali, etc. Feito
isso, eles mostram um pouco do processo empregado pelo legista para identificar
a causa da morte, como os hematomas ou danos encontrados no corpo que comprovem
ou desmintam alguma teoria. Por fim, com as provas apresentadas e com o caso
solucionado, o livro mostra como aquilo se desenrolou, fazendo um breve
apanhado do que houve no tribunal ou qualquer outro rumo que tenha tomado.
Entre
um cadáver e outro, Di Maio vai pegando as brechas necessárias em cada caso
para contar um pouco sobre sua vida e sobre a profissão, principalmente no
contexto norte-americano.
Me passa o bisturi
Mais
que a autopsia dos corpos e até mesmo as investigações, uma das coisas que mais
me interessaram no livro foram algumas curiosidades que até então eu não sabia
ou não tinha parado pra pensar. Como por exemplo os processos e as condições da
medicina legal nos EUA.
Apesar
da medicina legal gozar de bastante popularidade nas séries de TV, no livro
vamos descobrir que na realidade as coisas são bem diferentes no mundo dos
legistas, pois se trata de uma área que não tem tanta procura e muitas das
pessoas que acabam decidindo exercer a profissão, abandonam logo depois. Isso
acontece por diversos fatores, mas principalmente por ser uma das áreas menos
remuneradas da medicina e por ter que lidar com eventos e situações nem um
pouco agradáveis.
Como
consequência disso vamos ter o problema de ter muito menos legistas do que o
necessário, algo que gera um problema bem curioso nos Estados Unidos. A
medicina legal acaba sendo um luxo das grandes cidades, enquanto nas menores
acaba existindo um costume que eu achei um tanto bizarro (algo que não é exclusivo
dos EUA): na falta de um legista na região, há uma pessoa que é escolhida para
ser o responsável para “diagnosticar” a causa da morte, entretanto não há
nenhum pré-requisito que não seja a maior idade. Como você deve imaginar, isso
causa um problema porque pessoas nem um pouco aptas são responsáveis por fazer
esse trabalho que envolve diversos fatores e geram diversas consequências.
Então, como o próprio Di Maio acaba falando em certo momento, esse tipo de
pratica que não envolve a experiência necessária acaba fazendo com que crimes
fiquem sem solução (ou seja julgado erroneamente) e algumas doenças que
poderiam ser evitadas com uma autopsia correta acabam não sendo identificadas e
se perpetuando naqueles que continuam vivos.
Então
o livro acaba permitindo que o leitor tenha um visão menos hollywoodiana da
profissão e passe a compreender melhor o contexto e as atividades exercidas
pelo legista. Mesmo relatando todos os problemas, o livro não deixa de fazer
com que o leitor se interesse ainda mais pelo assunto e comece a ficar
desconfiado de certos eventos, como ele faz no final do livro.
Será que foi só a orelha?
No
final de O segredo dos corpos tem um
capítulo bem interessante que se diferencia um pouco dos outros, sem deixar o
tema central de lado, em que Di Maio vai contar que ele foi convidado a ajudar
em uma pesquisa sobre o Van Gogh, mais especificamente sobre os mistérios que
envolvem sua morte. Isso é bem bacana porque essa “autopsia” ele só pode fazer
a partir das histórias e dos relatos guardados e não tem um corpo para fazer
todos os procedimentos de costume, algo que complica a situação e o impossibilita
de chegar a um veredicto final, mas não deixa de ser bem curioso porque cria
mais complexidade sobre o mistério.
Se
você não sabe, é senso comum de que a morte de Van Gogh foi suicídio. Os
relatos dizem que um certo dia ele saiu como de costume da pousada onde morava,
levando os materiais de pintura, mas voltou horas depois sangrando na região do
peito por causa de um tiro que ele diz ter disparado contra si. Devido a
complicações ele acabou morrendo no dia seguinte.
Apesar
dessa versão ser aceita por grande parte das pessoas, a história e o relato do
legista que fez a autopsia de Van Gogh possuem algumas incongruências que
mostram que a história pode não ter sido bem assim, seja pela marca da bala
descrita pela autopsia, a posição da arma, etc. Não vou me prender muito nisso
porque o bacana é você acompanhar todo o processo lógico do Di Maio em que ele
vai apontando as divergências e mostrando outras hipóteses e teorias que fariam
mais sentido de acordo com aqueles dados disponíveis.
Legal, tudo que eu precisava pra sair
dissecando umas pessoas por aí
O
segredo dos corpos é um
livro pra todos aqueles que se interessam por medicina legal e/ou adoram
assistir séries policiais que envolvem investigações e autopsias para desvendar
o caso. Apesar de ser um livro de não-ficção, escrito por um médico, ele é
bastante acessível pra quem é leigo no assunto (como eu).
Trazendo
um caso diferente a cada capítulo, o livro consegue ser bem dinâmico e
interessante. Ao mesmo tempo em que ele instiga o leitor com aquela determinada
investigação, o autor também conta um pouco de sua história e apresenta as
informações necessárias para contextualizar aquele ambiente. A todo momento o
livro está te deixando curioso com algum mistério envolvendo a morte de uma
pessoa e te passando um pouco de informações sobre aquele assunto.
O
livro foi cedido pela Darkside em parceria com o blog. Além das características
já conhecidas por nós, o livro também conta com algumas imagens envolvendo os
casos e complementando o material. Mas pode ficar tranquilo que não há imagens
de autopsias nem nada, não precisa ficar com medo de gorfar na sua edição.
Que
o cadáver seja aberto.
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