Eu poderia
levantar diversas questões sobre a existência de deus e do diabo, possessão
demoníaca contra doenças psicológicas, se o gorfo da Reagan em O exorcista
era guacamole ou suco detox de couve, mas a única coisa que quero saber é: o
diabo montado em um bode preto x deus montado em um querubim, os dois a 80km/h
tu acha que vai ficar um do lado do outro?
“O
detetive balançou a cabeça. Constatou que a noção de um Deus menos do que
todo-poderoso era tão assustadora quanto a ideia de não haver Deus nenhum.
Talvez até mais. A morte seria o fim, pelo menos, sem um Deus. Mas quem poderia
saber o que um deus falho seria capaz de fazer? Se fosse menos que todo-poderoso,
por que Ele também não seria menos do que “todo-caridoso”, como o Deus cruel, caprichoso e vaidoso de
Jó? Com toda a eternidade ao Seu dispor, quais novas torturas perversas Ele não
seria capaz de imaginar?”
Título original: Legion
Autor: William Peter Blatty
Ano: 1983
Editora: Darkside books
Páginas: 299
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Com o
brutal assassinato de uma garoto negro de doze anos, o detetive William
Kinderman percebe que está envolvido em um caso delicado, não apenas pela idade
da vítima, mas também porque todos os detalhes do crime apontam para “o
geminiano”, um serial killer que já está morto há mais de dez anos.
Assassinatos,
demônios e reflexões
Apesar de
ser um livro vendido como terror, afinal é a continuação de O exorcista,
boa parte dele acaba sendo um thriller investigativo. O livro começa
quando o detetive Kinderman é chamado pra investigar o assassinato de um jovem
entregador de jornais, que foi encontrado no meio de sua rota. Mas toda a morte
do garoto é cercada de mistérios: no corpo foi marcado um símbolo e um dos
dedos da vítima foi levado, que constitui uma assinatura característica de um
serial killer morto na década anterior. Além disso, a principal pista desse
assassinato é uma senhora que foi encontrada próxima ao local, totalmente
desorientada e sem condições de se comunicar.
Conforme o
detetive vai se aprofundando no caso, as coisas começam a ficar cada vez mais
estranhas, levando-o a crer que as mortes podem estar ligadas ao que aconteceu
no passado com o padre Karras e, consequentemente, com forças extraterrenas por
ele enfrentadas.
Acho que
isso é o suficiente pra você saber sobre a trama, porque além de ser curto, a
história também está bem longe de ser boa como a de O exorcista. Mas
vamos desenvolver melhor isso.
Blábláblázebu
Não sei se
você é como eu que já assistiu O exorcista incontáveis vezes (se não fez
isso, então o que você andou fazendo da sua vida até hoje?), apesar de conhecer
a história e saber como ela acaba é sempre legal revisitar a possessão de
Regan, pois, apesar da idade, é o tipo de filme que continua atual e único,
conseguindo sobreviver as centenas de cópias que surgiram após. Entretanto,
mesmo sendo um filme que está entre os favoritos, eu sempre fui um pouco
purista quanto a ele; sempre preferi rever o original do que assistir as
continuações, posso estar errado, mas sempre me pareceram aquelas produções pra
simplesmente lucrar em cima de algo de sucesso.
Quando a
Darkside enviou Legião pela parceria com o blog (valeu caveira), eu
fiquei bem feliz, porque não era apenas uma produção cinematográfica
caça-níquel, mas sim um livro escrito pelo próprio Blatty. Se o próprio autor
de O exorcista acha que a história merece uma continuação, então é
porque ele tem algo a acrescentar, correto? Errado.
Legião
está bem longe de ser relevante para a história que Blatty construiu anos
antes. Apesar de ter suas reviravoltas e suas características próprias, ela
acaba passando aquela sensação de obra feita pra se aproveitar das glórias do
passado. Se no clássico tínhamos a história de Regan, o conflito dos padres, as
dúvidas sobre a veracidade da possessão, o drama da mãe, entre outras coisas,
na continuação, malgrado o mistério sobre os assassinatos, o autor foca muito
em uma investigação que nem é tão legal assim.
Meu maior
problema com o livro, no entanto, foi o protagonista. Se Kinderman fosse apenas
um personagem mala, tudo bem, em quase todo livro vão ter
personagens/protagonistas que você não vai gostar, o problema é quando isso
interfere diretamente na narrativa. Do início ao fim do livro, vamos ver
infindáveis reflexões do detetive sobre deus, vida, diabo, etc. Eu adoro
divagações, existem livros que são melhores pelas abstrações do que pela
própria história, mas Legião, com exceção de um ou outro excerto, é
massante e contém várias rupturas na leitura. Você está lendo sobre a
investigação e, do nada, Kinderman começa a refletir sobre o ninho construído
pelo passarinho. Eu arrisco dizer que cerca de um terço do livro se resume a
essas “viagens” do personagem; quando você termina fica claro que o livro podia
ter umas 100 páginas a menos e não faria falta. Lembrando: estamos falando de
um livro com menos de 300 páginas, então fica parecendo que o autor preferiu
enrolar pra dar volume a criar uma trama melhor.
Eu não
achei o livro ruim, mas ele foi decepcionante, porque as referências ao Exorcista
estão ali só pelo marketing. Se você tirasse meia dúzia de parágrafos do livro
excluiria todas as referências e elas não fariam falta nenhuma pra narrativa. É
bem provável que se fosse uma história desvinculada da obra anterior e fosse um
pouco mais direta, sem as masturbações filosóficas, eu tivesse aproveitado
muito mais a leitura, que, independente das críticas, tem seus bons momentos.
O gorfo
verde continua
Logo que
terminei a leitura eu descobri que legião também foi adaptado pro cinema, mas
chamado de O exorcista III. Pelo bem da resenha decidi deixar meus
preconceitos de lado e assistir o segundo e o terceiro filme. Sobre o segundo
filme deixarei pra fazer uma resenha melhor mais pra frente; aqui vou falar um
pouco sobre o terceiro, pois é o filme adaptado do livro que estamos
comentando, contudo, pode ficar tranquilo que é possível assistir tanto o
segundo quanto o terceiro em qualquer ordem, o segundo é uma continuação direta
do primeiro e o terceiro não tem relação nenhuma com o segundo.
Vamos lá. Exorcista
III de certo modo foi uma surpresa, mas não significa que seja bom. Creio
que por ter sido dirigido pelo próprio William Peter Blatty, o filme se manteve
bem fiel ao livro, existem algumas diferenças, um exemplo disso é que parece
que a produtora exigiu uma cena de exorcismo no filme que não tinha na obra
original, entretanto, a estrutura e o desenvolvimento é basicamente a mesma.
Uma coisa
que eu senti é que o filme consegue ser um pouco mais convincente, porém, é que
se trata de uma continuação. Você sente mais conexões com a obra original do
que no livro, mas é puramente pelos recursos visuais, como algumas cenas em
locações do filme original ou referências a personagens antigos, etc.
Apesar de
ter algumas coisas que gostei no livro, eu arrisco dizer que esse é um dos
raros casos que o filme se sai melhor, pois apesar de ambos terem as mesmas
qualidades e os mesmos defeitos, o filme suaviza as coisas ruins. O Kinderman
no filme, mesmo com suas reflexões e atitudes estranhas, tem bem menos
divagações e acaba sendo bem mais direto. Ele parece um personagem muito mais
concreto, ao passo que no livro muitas vezes ele soa forçado e sem sentido. Mas
como disse, mesmo aliviando os problemas, eles continuam ali, já que, assim
como o livro, o filme também é um pouco cansativo e só começa a ficar mais
interessante perto do fim.
Enfim,
apesar de algumas diferenças, os dois são bem parecidos e entregam uma
experiência bem semelhante, cabe a você decidir se prefere livro ou filme.
Devo
entregar minha alma pro Pazuzu… de novo?
Um dos
maiores problemas de Legião é o nome que ele carrega. É muito complicado
se posicionar como a continuação de O exorcista, visto que é impossível
você não comparar ou esperar algo tão bom quanto o original. Não sei se é algo
corajoso ou ingênuo por parte do autor, porém pra mim parece bem estranho
escrever uma sequência que se distancia tanto da anterior, uma vez que o
principal elemento (que é o terror) é deixado em segundo plano pra trabalhar um
thriller que pouco aproveita de O exorcista.
Eu
particularmente não gostei muito, até achei que o filme vale mais a pena, mas
foi uma experiencia válida. Acho que é uma leitura que pode valer a pena se
você souber no que você está se metendo, quer dizer, se você espera um livro de
terror, é melhor procurar outra coisa, mas caso você queira um thriller
com elementos de terror é provável que você aproveite a leitura. É claro, o
ritmo dele e as divagações não funcionaram muito pra mim, mas isso é algo
pessoal.
Apesar das
minhas críticas, é impossível não falar da edição da darkside, toda a parte
gráfica tá incrível, desde a capa com um capeta gigante pra você ler no metro e
receber olhares de julgamento das senhorinhas cristãs, até as belas artes
internas com representação do inferno.
Enfim,
cabe a você decidir se abraça o capeta ou não.
pimto
ResponderExcluirMuito boa a crítica. Estava com bastante curiosidade com relação a esse livro, mas depois de sua resenha acho que vou arriscar em compra-lo para tirar minhas próprias conclusões.
ResponderExcluirmeu penis não levanta mais =(
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